Uma empresária do Douro está a apostar no fabrico artesanal de papel, reciclando desperdícios têxteis onde incorpora materiais como folhas de videira, fetos ou alfazema, e o resultado é um produto feito à medida do cliente.
Ana Sofia Gomes, 35 anos, era gestora de uma empresa. Apesar da crise instalada no país não teve medo de desistir do emprego e de se lançar na concretização do seu próprio projecto.
Foi assim que nasceu a Papel Douro, empresa instalada na zona industrial de Alijó, e é assim também que do «Trapo se faz papel».
«No fundo, o que nós fazemos é uma reciclagem porque vamos buscar os desperdícios da indústria têxtil, que são os trapos cem por cento algodão, e depois recorremos a um processo totalmente ecológico», afirmou a empresária.
Este papel nasce de uma mistura de algodão, mais desfeito e em trapos, com água, sem recurso a qualquer aditivo químico. O trapo é macerado, triturado e transformado em pasta de papel devido à adição de água.
Depois, na pasta de papel podem ser incorporados os mais diversos materiais, desde palhas, fetos, barbas de milho, musgo, alfazema ou açafrão.
E, porque está em pleno Douro vinhateiro, a empresária quer aproveitar a matéria-prima local e, por isso, vai também juntar folhas de videira para criar o que chama «papel de cardápio».
Este produto poderá ser usado, por exemplo, para imprimir ementas para restaurantes ou cardápios e vinhos.
O papel é trabalhado à medida, com a espessura ou o relevo necessários para o fim a que se destina, quer seja para um álbum de fotografias, para sacos, para embalagens ou cartas, para individuais de mesa ou porta guardanapos.
«Esta base artesanal permite-nos diferenciar o produto e adaptá-lo às necessidades do cliente. Vamos fazendo o papel à medida do que é solicitado», salientou.
Ana Sofia Gomes referiu ainda que teve que mandar construir de propósito algumas das máquinas que estão a ser utilizadas no processo artesanal.
Mas a aposta da empresa não fica pela produção. As suas portas vão estar abertas para receber grupos de estudantes e de turistas e ensinar a história do papel, desde o antepassado papiro (Egito) até aos nossos dias.
«Vêm ver como é feita uma folha de papel e eles próprios podem experimentar fazer e, no fim do dia, levar a sua própria folha de papel», salientou.
Ana Sofia Gomes afirmou que decisão de abandonar o emprego foi «muito pensada», mas, segundo sublinhou, acreditou «no potencial do negócio do papel».
«Acho que era um nicho de mercado na zona do Douro vinhateiro. Queremos também potenciar o Douro, mostrar que é mais do que vinha e vinho», sustentou.