Mascarenhas Ferreira, reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Henrique Capelas, presidente do Concelho de Administração do Centro Hospitalar Vila Real/Peso da Régua, Costa Leite, delegado regional da Cultura do Norte, Artur Vaz e Armando Moreira, ex-governadores civis de Vila Real, e Magalhães Correia, presidente da Nervir.

Estes são cidadãos com convicções políticas distintas - uns são militantes do PSD, outros do PS, outros independentes -, interesses e formações académicas diferentes. Mas em comum, além do facto de residirem em Vila Real, têm uma causa: defendem a criação de uma grande Comunidade Urbana (Comurb) alargada a toda a região de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Na semana passada, após o debate público sobre a nova reorganização administrativa que reuniu em Vila Real dezenas de empresários, políticos e responsáveis institucionais da região, onde saiu clara a unanimidade da sociedade civil em torno do projecto de união transmontana, aquele grupo de cidadãos reuniu-se e decidiu lançar o movimento "Vila Real é Trás-os-Montes e Alto Douro". Neste encontro participou também Elói Ribeiro, governador civil de Vila Real, que não integra o movimento devido às suas funções.

Menos de oito dias após a sua constituição - a iniciativa vai ser apresentada hoje, ao fim da tarde, em Vila Real -, o movimento a favor do projecto de união transmontana integra já cerca de nove dezenas de personalidades locais, um número que tem vindo a engrossar. A ele aderiram todos os vice-reitores e pró-reitores da UTAD, além de diversos docentes desta instituição, o director regional de Agricultura de Trás-os-Montes e outros responsáveis e ex-responsáveis dos serviços desconcentrados da Administração Central, de áreas como a saúde, segurança social, direcção de estradas, etc. "Vila Real é Trás-os-Montes e Alto Douro" integra ainda dirigentes desportivos, empresários, políticos, ex-deputados parlamentares, entre outros.

Trata-se de um movimento local - a ele podem aderir todos os cidadãos que residam e trabalhem em Vila Real - e pretende, desde logo, pressionar o social-democrata Manuel Martins, presidente da Câmara de Vila Real, a abandonar o projecto de constituição, juntamente com outros 14 municípios durienses, da Comunidade Urbana do Douro. Pensam os líderes deste movimento que, ao constatar o seu alegado isolamento nesta matéria, o autarca de Vila Real poderá ainda arrepiar caminho e admitir a criação da Comunidade Urbana de Trás-os-Montes e Alto Douro.

A pretensão deste movimento parece no entanto, e cada vez mais, de difícil concretização. Por um lado, ainda no início desta semana, após uma reunião com 14 autarcas da região duriense, Martins voltou a reafirmar a determinação em constuituir a Comurb Douro. O autarca anunciou, aliás, que levará o seu projecto ao executivo camarário na próxima semana e à assembleia municipal até ao final do mês. E, como o PSD está em maioria, é muito provável que a sua proposta seja aprovada. Por outro lado, também esta semana, quando questionado sobre o movimento "Vila Real é TMAD", Manuel Martins considerou que os defensores do projecto de união transmontana não passam de "grupos organizados de cidadãos que defendem os seus interesses" e que o movimento não tem razão de ser. Manuel Martins estranha ainda que cidadãos com percursos políticos opostos estejam agora unidos na mesma luta.

A esta estranheza o movimento responde com... igual estranheza. "Tudo isto só prova que não lutámos por objectivos de natureza política particular, mas por objectivos políticos gerais", responde Mascarenhas Ferreira, reitor da UTAD, ele próprio também do PSD.

Caixas
O que eles dizem
Marcarenhas Ferreira, reitor da UTAD
Para o reitor da universidade transmontana, Mascarenhas Ferreira, a criação de duas comunidades urbanas na região transmontana teria, em relação ao ensino superior, uma consequência óbvia: iria legitimar o movimento que reivindica a criação de uma nova universidade em Bragança. "Com a criação de duas comunidades o movimento [pró-universidade de Bragança] verá reforçado o seu poder político reivindicativo para a criação de uma universidade", sublinha.

Mascarenhas Ferreira acredita que a UTAD "estará sempre salvaguardada" - "Todos concordamos que a região não comporta mais uma universidade, o que precisa é de racionalizar a oferta", sustenta -, mas não esconde o seu receio nesta matéria. A favor do projecto de união de TMAD, o reitor lembra ainda a lógica que presidiu à criação da universidade transmontana, em 1986: "A UTAD ficou com a responsabilidade acrescida de trabalhar na promoção e desenvolvimento de toda a região de TMAD".

Actualmente, a presença da UTAD vai muito além das fronteiras de Vila Real. Além dos pólos que tem em Chaves e Miranda do Douro, a universidade transmontana desenvolve projectos e actividades em toda a região. O projecto regional mais emblemático é o Serviço Cooperativo de Extensão de TMAD. CP

Jorge Pinheiro, director do Centro Hospitalar Vila Real/Peso da Régua

Jorge Pinheiro, director-clínico do Centro Hospitalar Vila Real/Peso da Régua, lamenta que a discussão à volta da actual reforma administrativa, que poderá ter implicações no desenho da própria região, tenha deixado de fora o maior motor da economia regional: o Centro Hospitalar Vila Real/Peso da Régua. Este hospital é a maior entidade empregadora transmontana e afirma-se cada vez mais como centro hospitalar de referência na grande região de Trás-os-Montes e Alto Douro (TMAD). Ou seja, sublinha este responsável: a área de influência deste hospital, "nunca" poderá ficar condicionada à divisão administrativa da região em duas áreas.

O director-clínico do hospital transmontano não percebe as dúvidas que pairam sobre a nova reforma administrativa, nomeadamente em relação a TMAD, um espaço territorial com identidade. Para ele, a questão é simples: "Só se consegue eliminar desperdício e gerar sinergias, tão necessários ao desenvolvimento da região transmontana, com massa crítica", sustenta.

Da mesma opinião, Henrique Capelas, presidente do Conselho de Administração do centro hospitalar, sustenta que a divisão transmontana "condicionará, a médio longo/prazo, a viabilidade de sobrevivência da região tramsmontana" e poderá ainda "comprometer o sucesso de qualquer estratégia futura de desenvolvimento". "Seria um erro irremediável reduzir a nossa já diminuta capacidade de regeneração sócio-política e contribuir para a aceleração do declínio demográfico e económico de toda a região", assevera.

Referindo-se às implicações desta reforma na saúde, Capelas defende como "fundamental" a integração das economias de escala e sinergias, enquadradas ao nível de uma região. "A reforma da saúde terá de implicar uma cada vez maior coesão e permanente ligação entre os sistemas de saúde de cuidados primários, de cuidados diferenciados e cuidados continuados. (...) Só assim se disporá de um programa de coordenção mais abrangente e racional dos meios e equipamentos de que dispomos", sustenta.



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