Parte significativa do edifício anexo à Sé Velha de Bragança forma três das quatro alas de um amplo claustro quinhentista. Foi Mosteiro de Clarissas desde 1545, tendo passado, por cedência, à Companhia de Jesus na segunda metade do século XVI, a Colégio Jesuíta até à expulsão da Ordem em 1759.
A Coroa, que assim retomava o edifício, passou-o depois para os prelados de Bragança na altura da transferência da sede do Bispado de Miranda para Bragança em 1764, altura em que passou a ser utilizado como Seminário Diocesano. As alas nascente e poente entretanto construídas, vieram a aumentar significativamente a capacidade do edifício onde, com a construção do novo Seminário junto da actual Avenida de Zamora, passou a funcionar o Liceu Nacional de Bragança entre 1853 e 1969, data em que foi transferido para o novo edifício que entretanto foi para esse fim construído na zona da Boavista.
Desde então e até 1995, nele passou a funcionar uma Escola Preparatória, a que foi dado o nome de Augusto Moreno. Tendo entretanto ficado devoluto com a transferência da Escola Preparatória para novas instalações, e sem que estivesse perspectivado um novo uso a dar-lhe por parte do Estado, entendeu por bem a Câmara municipal adquirir o edifício a fim de o não deixar degradar ainda mais após a derrocada de parte da cobertura da ala nascente, causada pelo peso excessivo da neve caída no Inverno de 1996/1997.
Terminado um longo ciclo de mais de 400 anos em que o edifício teve uma utilização exclusiva para fins de ensino, e considerando o seu grande valor patrimonial, a Câmara procedeu à sua completa reconstrução como há vários anos se justificava, com o fim de o adaptar a novas funções na área das artes e da cultura, sendo-
-lhe por isso mesmo, e a partir de agora, atribuída a nova designação de Casa da Cultura. Consciente da importância urbanística do conjunto arquitectónico formado pela Casa da Cultura e pela Sé Velha, fazendo do local um dos mais aprazíveis da cidade, de grande interesse histórico e com grande potencial em termos de turismo, a Câmara Municipal pretende, logo após a conclusão das obras, dar início ao processo legal para a sua reclassificação.
O projecto de reconstrução do edifício, que entretanto foi mandado elaborar após concurso público teve, como condicionalismos de base para o seu desenvolvimento, a construção de novos sanitários públicos voltados ao Jardim António José de Almeida, em substituição dos que aí funcionavam de forma deficiente, e a abertura para o mesmo, do recreio existente entre as três alas que compõem o edifício.
A abertura dos claustros da Sé para o exterior, por forma a proporcionar o seu acesso fácil aos visitantes foi outra das condicionantes a ter em conta pela equipa projectista, como forma de quebrar o isolamento quase absoluto em que essa zona sempre se manteve ao longo de décadas.
Era também necessário ter em conta e adaptar o novo complexo ao novo esquema viário e pedonal que recentemente foram executados nesta zona com a intervenção efectuada ao nível do programa POLIS, particularmente nas ruas do Mercado e da República.
Este edifício , após a sua recuperação, é capaz de polarizar actividades e acções de vária índole que extravasem o nível concelhio, criando novas aliciantes afim de dinamizar o centro da cidade, convertendo-o num lugar de dinamização cultural, vindo o edifício por sua vez, a tornar-se um elemento dinâmico, de cariz eminentemente didáctico dirigido à conservação e divulgação do património cultural.
Nesse sentido, e dada a abundância de área disponível, foram previstas várias zonas diferenciadas destacando-se, pela sua importância no funcionamento do edifício, a criação da Biblioteca Municipal, de uma Escola de Música, de um Centro de Divulgação Cultural, de uma Área Pluridisciplinar em open space e de uma Cafetaria, para além das imprescindíveis áreas administrativas e de secretariado.
A Biblioteca ocupa uma área de 1.830 metros quadrados, situa-se na ala nascente e em parte da ala norte do edifício, distribui-se em dois pisos, e prevê a sua divisão em espaços distintos para adultos, com 429 metros quadrados, e para crianças, com 237 metros quadrados. Este equipamento, do tipo BM-2 e instituído no âmbito da rede pública do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, será de futuro reforçado com a criação de anexos em diferentes locais do concelho.
A Escola de Música distribui-se por todo o piso 1 e em parte do piso 0 da ala poente do edifício, ocupando uma área de 591 metros quadrados. Os cursos inicialmente previstos são os de Piano, Cordas e Metais, sendo intenção que a Escola venha posteriormente a ganhar o estatuto de uma escola profissional de nível conceituado, constituindo algo a que se pudesse chamar Conservatório Regional de Música.
O actual ginásio será adaptado a auditório polivalente, no respeito pelas normas legais relativas à instalação e equipamento das escolas profissionais privadas afectas ao ensino público permitindo, pelas suas características, o funcionamento de três cursos com 25 alunos em cada curso.
O Centro de Divulgação Cultural ocupará uma área de 77 metros quadrados, e será localizado no piso 0 da ala norte, permitindo a instalação de vários espaços comerciais de âmbito restrito, tendo em vista, entre outros, a promoção do artesanato regional, a venda de publicações de índole didáctica e o apoio ao turismo da região.
A área pluridisciplinar, em regime de open space, ocupa parte do piso 1 da ala norte, e disporá de uma área total de 426 metros quadrados, proporcionando condições para a realização de exposições tanto de carácter permanente, como de carácter temporário.
A cafetaria, como elemento polarizador de todo o conjunto e imprescindível num edifício que, como este, contém as mais diversificadas valências, ocupa uma área de 152 metros quadrados.
A área administrativa e de secretariado, situada ao nível do piso 1 junto da entrada principal, ocupa uma área de 73 metros quadrados e foi localizada por forma a permitir que, num futuro previsível, venha a constituir o núcleo de gestão de uma Fundação a criar, para a gestão racional de todo o complexo.
Esta nova etapa da vida do edifício, agora já não exclusivamente dedicada ao ensino, irá iniciar um novo ciclo em que todas as formas de arte e cultura deverão ter lugar.