Uma exposição que dá lugar “a inesperadas construções cénicas e teatrais, ao recorte e esvaziamento de figuras, à manipulação de fotografias e objetos ou à criação de ambientes, como simulacros de inquietantes espaços domésticos e sociais”.
O Centro de Arte Contemporânea Graça Morais recebeu na tarde de sábado, dia 11 de novembro, mais uma exposição de uma artista nacional consagrada. Dezenas de obras de Ana Vieira podem, agora, ser contempladas em Bragança até ao dia
Considerada “uma das mais fascinantes e multifacetadas artistas da sua geração”, é na casa, “lugar de projeção de tensões e conflitos, de emoções e desejos” e a partir dela, “dos seus ambientes e dos seus objetos”, que Ana Vieira se inspira para criar grande parte da sua obra.
Nascida em Coimbra, em 1940, é a partir da década de 1970 que a, ainda, jovem conquista um lugar de destaque na vanguarda artística portuguesa. O seu processo criativo ficou, desde cedo, marcado pela combinação de diferentes meios e mecanismos de expressão, adotando a instalação como prática preferencial, “dando lugar a inesperadas construções cénicas e teatrais, ao recorte e esvaziamento de figuras, à manipulação de fotografias e objetos ou à criação de ambientes, como simulacros de inquietantes espaços domésticos e sociais”.
“Uma antologia” vem na sequência de duas importantes retrospetivas e reúne uma substancial genealogia de obras, provenientes do acervo da artista e de diversas coleções públicas e privadas, representativas de cinquenta anos da sua singular carreira artística. A primeira retrospetiva foi apresentada em 1998, no Museu de Serralves, no Porto, enquanto a segunda teve lugar mais recentemente, corria o ano de 2011, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
O Diário de Trás-os-Montes esteve à conversa com a filha de Ana Vieira, que confessou um orgulho enorme não só na figura da sua mãe, mas também pelo facto da sua exposição ser apresentada, agora, em Bragança, sendo a primeira antologia a ter lugar após o seu falecimento. “Para mim é muito importante porque ela morreu o ano passado e até agora a obra dela tem sido exposta em vários sítios, mas não houve nenhuma exposição antológica depois da sua morte”, explicou Paula Nery, sublinhando o “grande orgulho” e um certo “contentamento” pelo “excelente trabalho” desenvolvido pelo curador Jorge da Costa. O, também diretor, do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais revelou ter conseguido “reunir aqui 50 anos de carreira de uma das artistas mais extraordinárias de arte contemporânea portuguesa que é, efetivamente, Ana Vieira”. “Temos aqui obras desde 1968 até à última obra que ela realizou, em 2014” e “isto era um sonho antigo, há muito tempo que eu andava com vontade de trazer aqui a obra da Ana Vieira, sempre numa antologia, uma artista muito à frente do seu tempo, sobretudo, porque, de algum modo, ela transformou a própria arte portuguesa”, explicou Jorge da Costa que, a par do Município de Bragança, produziu esta exposição que estará patente até ao dia 25 de fevereiro, reiterando que esta é “uma oportunidade rara de ver ou rever a obra desta excecional artista”.
No final, o presidente da Câmara Municipal de Bragança frisou o quão importante é continuar a investir na cultura. “Esta é mais uma exposição de qualidade como aquelas que temos trazido aqui ao Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, neste caso “Uma Antologia” de Ana Vieira”. De facto, uma artista absolutamente extraordinária com peças de excelência”, comentou Hernâni Dias, frisando que “continua a ser uma aposta do município a vertente cultural, temos os equipamentos, a necessidade e a preocupação de procedermos à dinamização desses mesmos equipamentos e, portanto, esta é mais uma exposição, sempre numa perspetiva de grande qualidade como é apanágio do Centro de Arte Contemporânea em todas as exposições que traz e esta, obviamente, não foge à regra”.