O presidente da câmara de Bragança rejeitou hoje a instalação de um cemitério nuclear na zona espanhola próxima da fronteira. O autarca considera a disponibilidade da aldeia espanhola de Peque, para acolher esta estrutura, «um acto de desespero».

\\"Só posso entender como tratando-se de uma posição de algum desespero de quem quer chamar a atenção dos poderes públicos para o abandono e a forma como tem sido maltratada esta zona de fronteira\\", declarou o autarca, Jorge Nunes.

Bragança é o concelho português fronteiriço mais próximo da pequena aldeia de Peque, no Norte de Espanha, que tem sido notícia nos últimos dias na imprensa espanhola por o autarca local se ter oferecido para albergar um cemitério de resíduos nucleares como solução para actual crise económica da região.

O governo espanhol abriu um concurso à procura de localidades que queiram candidatar-se a acolher os resíduos produzidos nas centrais nucleares do país.

De acordo com a edição digital do diário La Opinion de Zamora, a pequena localidade de Peque, com cerca de 200 habitantes, na zona da Sanábria, a pouco mais de 60 quilómetros de Bragança, é a primeira localidade espanhola a candidatar-se para acolher mais de 6.700 toneladas de substâncias radioactivas durante um período de 60 anos.

Rafael Lobato, responsável autárquico, referiu que a vitória no concurso seria \\"a lotaria\\" da pequena aldeia. Para acolher os resíduos, Peque receberia mais de mil milhões de euros e a gestão de um projecto que criaria 300 postos de trabalho, o que segundo Rafael Lobato \\"mudaria a vida dos cidadãos\\".

Apanhado de surpresa pela notícia, o autarca de Bragança comentou que os problemas existentes naquela localidade espanhola não justificam uma atitude desesperada a pretexto da criação de \\"riqueza e postos de trabalho\\".

Jorge Nunes trabalha há vários anos com Zamora numa comunidade de trabalho transfronteirça e acredita que a sensibilidade dos colegas espanhóis é no sentido da \\"rejeição desta solução\\".

Segundo disse, juntos irão equacionar as formas de fazer chegar ao governo espanhol esta posição.

O autarca de Bragança lembra que em toda esta zona fronteiriça existem importantes áreas naturais protegidas e a \\"ideia de um cemitério nuclear não é um bom cartaz para a região\\".

\\"Afastem o cemitério da zona de fronteira e encontrem uma localização nas zonas onde mais utilizam a energia nuclear, como a Catalunha ou Madrid\\", aconselhou.

A imprensa da região espanhola de Zamora noticia hoje a contestação que se gerou em torno da tomada de posição do autarca de Peque, com o partido pelo qual foi eleito, o PP, a demarcar-se também das suas declarações.

O diário La Opinion de Zamora recorda como esta província espanhola lutou há vários anos para afastar a ameaça do nuclear desta zona, uma luta em que estiveram também envolvidos os portugueses.

Desde 1987 que se sucedem as manifestações de protesto contra a pretensão da instalação de uma central nuclear em Sayago, e de um cemitério nuclear em Aldeadávila.



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«Cementerio nuclear»

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