O consenso parecia cada vez mais difícil e longínquo, mas ontem, após longas horas de reunião em Boticas, os autarcas transmontanos, juntamente com Miguel Relvas, secretário de Estado da Administração Local, regaram com champanhe a decisão de criar a comunidade urbana (Comurb) de Trás-os-Montes.
Este novo "volte-face" neste já longo projecto foi possível porque os autarcas acordaram entre si que a presidência da junta da futura comunidade será exercida de forma anual e rotativa, por ordem alfabética dos municípios integrantes que, ao que tudo indica, serão 16. O primeiro município a deter a sede da futura comunidade será, assim, Alfândega da Fé.
"Foi uma reunião frutuosa e vai ficar na história pela vontade inequívoca manifestada por todos nós no sentido de criar a Comurb de Trás-os-Montes", sublinhou Fernando Campos, presidente da Câmara de Boticas, único porta-voz do encontro. Miguel Relvas elogiou, por seu lado, os autarcas transmontanos que "souberam separar as questões políticas e emocionais". "Hoje, pÎs-se de lado o individualismo, o egoísmo e o clientelismo e vestiu-se a camisola de Trás-os-Montes", declarou.
Além de surpreendente, a decisão não foi fácil de conseguir. Depois da disputa pela localização da sede da futura junta regional protagonizada recentemente por Chaves e Bragança, o processo de criação da Comurb transmontana estava por um fio e a decisão só foi possível com a intermediação de Miguel Relvas.
Ontem, sob o patrocínio do governante, e para ultrapassar o impasse existente, os municípios do Alto Tâmega avançaram com a proposta da rotatividade da sede da futura junta regional. "Mais não fizemos do que seguir o princípio estabelecido pela União Europeia que tem presidência rotativa [a ainda existente Associação de Municípios do Alto Tâmega também segue este modelo]. Esta é uma solução que valoriza o facto dos municípios pequenos poderem exercer a presidência da Comurb", sublinhava Fernando Campos.
Em termos práticos, serão as autarquias-sede que, em cada ano, assegurarão toda a logística da futura comunidade urbana. Os autarcas acordaram também que a sede da assembleia, órgão que reúne três vezes por ano, ficará sediada no município de Bragança em instalações a disponibilizar por este município.
No final da reunião, Relvas e Campos classificavam a decisão de "histórica" e esforçavam-se por passar a ideia de grande consenso à volta do projecto de Trás-os-Montes. Mas, quando brindavam à decisão, nem todos os autarcas mostravam o mesmo entusiasmo. João Baptista, presidente da Câmara de Chaves, esforçava-se por mostrar satisfação e sorria constantemente. De semblante carregado, Jorge Nunes não conseguia disfarçar algum desânimo e frustração. O governante reparou nisso e, para a fotografia, colocou-se entre ambos e gritou: "Viva Trás-os-Montes". Estes sorriram, mas não o acompanharam na saudação.
Como vai ser a Comurb de Trás-os-Montes
Se as assembleias municipais ratificarem a decisão de ontem dos autarcas, a Comurb de Trás-os-Montes será composta por 16 municípios. São eles: Bragança, Miranda do Douro, Vimioso, Vinhais, Macedo de Cavaleiros, Mirandela, Alfândega da Fé, Freixo de Estada à Cinta, Mogadouro, Vila Flor, Chaves, Boticas, Montalegre, Ribeira de Pena, Valpaços e Vila Pouca de Aguiar. Existem contudo dúvidas em relação a Vila Flor. O presidente deste município, Artur Pimentel, tem participado nas reuniões quer da Comurb de Trás-os-Montes, quer da comurb do Douro e anunciou já que deixará a decisão definitiva sobre esta matéria nas mãos da respectiva Assembleia Municipal.