Melat e o filho bebé são a única família de refugiados que permanece em Bragança e que quer ficar, embora ainda sem saber ao certo o que a espera a um mês de terminarem os apoios oficiais.
"Como se diz em Portugal, amanhã é outro dia...", afirma esta mãe.
Em julho terminam os apoios financeiros da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) e as ajudas da Santa Casa da Misericórdia de Bragança (SCMB), que a acolheu, garantindo casa, água, luz e infantário.
"Eu quero ficar em Bragança, gosto de Bragança, das pessoas", afirmou à Lusa Melat que vai ter de se adaptar a viver exclusivamente do salário, ligeiramente superior ao mínimo nacional, do emprego na lavandaria da Misericórdia que lhe foi garantido quase desde que chegou.
Melat tem 26 anos, um filho com menos de dois anos, que já nasceu em Bragança, poucos meses de ter chegado com mais duas famílias, todas de jovens mulheres com filhos ou grávidas e acolhidas pela Misericórdia, há quase dois anos, no âmbito do programa nacional de apoio aos refugiados.
Um das mulheres partiu com os filhos para França pouco tempo depois de ter chegado e a outra fez o mesmo, mais tarde, recorrendo à figura do reagrupamento familiar.
Melat ficou e garantiu à Lusa que não quer fazer o mesmo percurso, apesar de ter "muitos amigos" espalhados por vários países europeus onde foram acolhidos depois da fuga dos conflitos locais, como os que fizeram esta mulher aventurar-se num barco para sair da Eritreia.
Está agora a preparar-se para a chamada "fase da autonomia", em Bragança, e as dificuldades surgiram imediatamente no primeiro passo: a procura de casa. Ainda não conseguiu encontrar uma renda de valor ajustado aos rendimentos que irá passar a ter.
Tem a garantia da Santa Casa de que, se em julho, ainda não tiver outra casa não ficará na rua, e o apoio de amigos e de colaboradores da instituição na procura de um novo lar.
Com o salário terá ainda de suportar as despesas do supermercado, água, luz e todas as contas, assim como o sustento do filho bebé e não desiste da ideia de continuar a enviar dinheiro à mãe, como fez todos os meses, desde que chegou a Bragança.
Melat confessa que está "preocupada", mas já pensou numa solução: mandar vir a irmã para a ajudar. Foi ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) perguntar o que tinha de fazer, porém só poderá tratar do processo quando, para além de trabalho, tiver também uma residência permanente.
Apesar de todas as incógnitas, insiste que quer ficar na cidade transmontana.
"Bragança é pequena, é calma, as pessoas ajudam. Não é o dinheiro, as pessoas são boas", enfatizou, num diálogo ainda com alguma dificuldade em expressar-se em português.
Desde que chegou, já aprendeu "muita coisa" numa terra em que "é tudo diferente para melhor".
Tirando o pão, que "é bom", só à comida é que ainda não se ambientou, mas não tem dificuldade em encontrar os ingredientes para os cozinhados típicos do país de origem.
A Santa Casa da Misericórdia de Bragança disponibilizou-se, desde o início do processo, a receber mais refugiados, mas não lhe foi feita nenhuma outra solicitação, desde há dois anos, segundo a instituição.
Apesar de todas as incógnitas, Melat diz que quer ficar e encara o futuro com uma expressão que aprendeu no país de acolhimento: "como se diz em Portugal, amanhã é outro dia..."
Foto: OM