A peça \"Alguém Cá Dentro\", de José Carretas, encenada pela Urze e apresentada na semana passada nos claustros do Governo Civil de Vila Real, poderá ser a última desta companhia teatral, caso o IPAE mantenha a sua posição de não lhe atribuir qualquer subsídio este ano. No final do espectáculo, a Urze leu um comunicado onde manifestou perante os presentes esta sua preocupação e a \"indignação\" com a decisão do IPAE.
Esta companhia vila-realense não aceita a forma como foi avaliada, tendo por isso apresentado recurso, do qual ainda espera uma resposta concreta. A Urze diz-se \"surpreendida\" pelo facto do programa actual do Governo para a área da cultura ser \"explícito\" ao dizer que \"o investimento nesta altura deverá ir de encontro às regiões mais carenciadas do país\". Só que, na opinião da companhia, \"não foi esse o entendimento do júri escolhido pelo IPAE, ao atribuir uma pontuação maior a projectos da grande Lisboa, considerando que essa mesma região apresenta maiores carências culturais em relação a Trás-os-Montes e Alto Douro\". \"Ao ser concretizada essa decisão, aumentarão como nunca as desigualdades entre Trás-os-Montes e os grandes centros do país\", alertou o director da Urze, Fábio Timor.
A avaliação do júri nomeado pelo IPAE demonstra \"uma falta de conhecimento da realidade da actividade teatral de carácter profissional em Trás-os-Montes e Alto Douro\", salientou a Urze, que assegura \"não poder continuar a aceitar as desigualdades entre o litoral e o interior, nem que \"a região de Trás-os-Montes seja obrigada a caminhar para a estagnação da sua qualidade de vida e do seu desenvolvimento intelectual\".
\"Sofremos da interioridade, mas não queremos fazer dela uma bandeira, apenas queremos ver cumpridas promessas que, ao serem concretizadas, criarão uma igualdade de oportunidades a nível nacional\", explica Fábio Timor. A Urze garante que não pretende ter um \"tratamento privilegiado\", apenas gostaria de ser alvo de uma \"discriminação positiva, relativamente às carências de Trás-os-Montes e Alto Douro\", já que \"não possui os mesmos instrumentos e meios existentes nos grandes centros do país\".
O director da Urze disse que \"estas desigualdades se têm notado de ano para ano\" e adianta que, \"nos últimos quatro anos, a região da grande Lisboa e Porto, bem como o resto do litoral, sofreu um investimento na área do teatro de cerca de 98 por cento\". Em contrapartida, \"a região transmontana, no mesmo período, sofreu o ridículo investimento de 0,6 por cento\". E este ano, caso a Urze não receba a \"sua\" verba, esse investimento passará para 0,4 por cento.
A companhia continua à espera do recuso relativo à decisão do IPAE, mas pretende pedir uma audição ao secretário de Estado da Cultura ou ao próprio ministro, para lhes comunicar pessoalmente os seus problemas e as dificuldades que poderá enfrentar sem o subsídio, incluindo o seu próprio fim. \"Só queremos uma coisa: condições reais de trabalho para continuar a criar\".