O Laboratório de Ecologia Aplicada (LEA) da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) está a desenvolver vários estudos que procuram aprofundar o conhecimento sobre a ecologia dos morcegos e contribuir para a preservação destas misteriosas espécies. Os morcegos prestam um serviço de ecossistema relevante para muitas atividades humanas, como a agrícola, ao controlarem significativamente inúmeras pragas de insetos prejudiciais à agricultura e à saúde pública, contribuindo ao mesmo tempo para diminuir a aplicação de práticas de combate mais nocivas para o ambiente, como é o caso dos pesticidas/inseticidas.
Coordenados por João Alexandre Cabral, diretor do LEA, laboratório integrado no Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), os estudos sobre a ecologia dos morcegos incidem especialmente na região transmontana e alto duriense. Um dos estudos em curso prende-se com a avaliação da distribuição espacial de quatro espécies de morcegos nos distritos de Vila Real e Bragança, relacionando os requisitos ecológicos destas espécies com as características climáticas, topográficas, socioeconómicas atuais e dos usos do solo predominantes.
O objetivo é a análise e a previsão dessa distribuição no futuro, de acordo com as tendências de alteração nos usos do solo, através da modelação ecológica. Este estudo, desenvolvido no âmbito do mestrado do também investigador do LEA, Luís Braz, além de contribuir para melhorar o conhecimento sobre estas espécies, cujo estatuto de ameaça é ainda desconhecido, visa também a criação de uma ferramenta de apoio à gestão ambiental que ajudará os gestores e decisores responsáveis pela conservação deste grupo de animais.
Neste domínio decorrem também outros estudos, entre os quais a análise da diversidade de morcegos na área urbana da cidade de Vila Real (trabalho de mestrado de Luís Ochoa) e a análise da diversidade e abundância de morcegos em bosques de folhosas autóctones, no campus da UTAD (mestrado de Sandra Faria), que contam com a orientação do especialista em morcegos do LEA, Paulo Barros.
Dos trabalhos de conservação mais relevantes em prol dos morcegos que o LEA tem desenvolvido, destacam-se o projeto “MURBE” com a instalação de 70 caixas abrigo para morcegos nos parques e jardins da cidade de Vila Real (em parceria com a Câmara Municipal), cuja finalidade é compensar a perda de habitat provocada pela expansão urbana, e o projeto “EcoVitis” que visou a maximização dos serviços do ecossistema vinha na Região Demarcada do Douro e que abrange, entre outros grupos de flora e fauna, os morcegos. Adicionalmente, o LEA é atualmente responsável pela monitorização de longo-termo das medidas compensatórias para morcegos implementadas ao abrigo do Aproveitamento Hidroelétrico do Baixo Sabor (projeto financiado pela EDP).
Um dos membros desta equipa, Luís Braz, realça a grande importância da função ecológica destas espécies, “uma vez que todos os morcegos europeus são insetívoras, alimentando-se da grande maioria de artrópodes da nossa fauna. Caçam durante a noite usando um sistema de ecolocalização por emissão de ultrassons. Contando que um morcego pode ingerir desde metade até ao dobro do seu peso por noite, um único morcego com 10g pode caçar até 20g de insetos.”
Foto: José Rodrigues