Uma investigadora da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) quer usar o engaço da uva, reaproveitando este subproduto da indústria vitivinícola, para desenvolver uma almofada absorvente que será incorporada nas embalagens de carne fresca.
“Este projeto consiste em desenvolver uma embalagem ativa, sustentável e biodegradável, à base de engaço, que é um dos subprodutos da indústria vitivinícola, de forma a tentar também aumentar o tempo de vida útil da carne fresca”, afirmou hoje à agência Lusa Irene Gouvinhas, investigadora do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), da UTAD.
O projeto STEMPACK tem início previsto para janeiro de 2025, mas já nesta vindima, que está prestes a começar, a investigadora vai recolher a matéria-prima necessária para a investigação.
O engaço, ou seja o esqueleto da uva após ser retirado o bago e que representa cerca de 25% dos resíduos orgânicos da indústria vitivinícola, vai ser fornecido por produtores da Região Demarcada do Douro e tratado na UTAD.
Nos laboratórios da academia transmontana, em Vila Real, a matéria-prima vai ser lavada, secada, triturada em pó e guardada num ambiente refrigerado, para depois ser usada no desenvolvimento dos projeto.
A investigadora explicou que o que se pretende desenvolver é uma almofada absorvente, como as que há dentro das embalagens, debaixo da carne fresca e que serve para absorver a sua humidade.
“A ideia é usar o engaço como um todo, ou seja, utilizar a fração celulósica do engaço, porque essas almofadas absorventes são feitas normalmente à base de celulose. Portanto, recuperamos a celulose do engaço, mas também vamos incorporar compostos bioativos que o engaço tem para tornar a embalagem mais funcional”, explicou.
Acrescentou que se pretende, também, “tentar aumentar o tempo de vida útil da carne fresca”, referindo que o engaço apresenta propriedades antioxidantes e antibacterianas.
Irene Gouvinhas destacou que este é um projeto de economia circular, que visa reduzir o impacto ambiental da indústria vitivinícola e que pretende ainda reforçar a segurança alimentar, reduzindo ao máximo o uso de plásticos e de materiais não biodegradáveis.
“O engaço é um subproduto que não é muito aproveitado e é muitas vezes descartado”, referiu a investigadora.
O projeto conta com uma dotação orçamental de cerca de 50 mil euros, da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), e decorrerá ao longo de 18 meses.
Inserida na região do Douro, a UTAD tem desenvolvido vários projetos que visam o reaproveitamento dos subprodutos da industria vitivinícola (engaço, películas, grainhas, borras ou bagaços) que ganham nova vida em, por exemplo, cremes antirrugas e antimanchas, membranas para tratar feridas, infusões, pão centeio ou bolachas crocantes.