A reabertura dos tribunais de Boticas, Mesão Frio, Murça e Sabrosa, no distrito de Vila Real, trouxe alegria às vilas, ajudou a evitar deslocações e a poupar, mas localmente reivindicam-se mais competências e serviços nestas estruturas.
O distrito de Vila Real foi o mais afetado pela reforma judiciária que encerrou quatro tribunais. Há um ano Boticas, Mesão Frio, Murça e Sabrosa reabriram como juízos de proximidade.
A alegria voltou ano a Boticas depois da reabertura do tribunal que trouxe mais movimento à vila, evitou deslocações, ajudou a poupar dinheiro e a sentir o Estado mais perto.
“Foi uma alegria muito grande para todos”, afirmou à agência Lusa Lucília Ervões, de 62 anos e residente na aldeia de Sapiãos.
Os transportes públicos para Chaves não serviam as necessidades e o táxi ficava demasiado caro para as pequenas reformas que a maioria dos idosos recebe, muitos dos quais possuem também problemas de mobilidade.
“Eu acho muito bem, que em vez de fecharem estas instituições que as devem abrir e devem-se manter abertas”, frisou Edite Fonseca, de 52 anos e que vive nesta vila.
Com o café restaurante Marialva aberto há 30 anos no centro de Boticas, Camilo Fernandes disse que as pessoas “ficaram tristes e desanimadas” quando o tribunal fechou e salientou que notou uma quebra nos clientes.
“É uma ajuda para os negócios e os comércios. Onde há gente há mais movimento. Foi muito bem e que se conserve muito tempo aberto”, frisou.
Mais em baixo, Fernanda Portelinha, de 54 anos e com o café Central aberto há 33 anos, referiu que a reabertura do tribunal “traz sempre mais gente”.
“É sempre bom, mesmo para as pessoas das aldeias que têm pagar transportes para irem para outros lados. Assim é mais fácil”, salientou.
O presidente da Câmara de Boticas, o social-democrata Fernando Queiroga, opôs-se veementemente ao fecho do tribunal ordenado pelo Governo do seu partido, liderado por Pedro Passos Coelho.
“Foi uma luta intensa que tivemos porque era uma injustiça o que estavam a fazer ao povo de Boticas, porque aqui pagam-se os impostos da mesma forma que pagam os cidadãos dos outros concelhos e era uma referência do Estado no município”, afirmou à Lusa.
O autarca sempre refutou os números apresentados relativamente a este tribunal e sublinhou que a “prova disso é que, entre os que reabriram, Boticas é um dos que tem mais serviços”.
“O que é que isto traz de vantagem? É efetivamente a população, os gastos financeiros com as deslocações, a falta de transportes e o conforto. É uma entidade do Estado que está presente e é o sinal que se dá à população do não abandono destas terras”, afirmou.
Fernando Queiroga destacou também o papel dos juízes neste processo e salientou que eles "não se têm coibido de se deslocar a Boticas para os julgamentos".
Em Mesão Frio, o presidente socialista Alberto Pereira fez também um balanço “bastante positivo”, mas defendeu que o tribunal “pode e deve melhorar a capacidade de resposta às pessoas”, reivindicando, por isso, mais competências para rentabilizar o espaço e os dois funcionários afetos ao serviço.
“Foi um ano de transição e, efetivamente, só está a fazer os julgamentos que foram marcados depois da sua abertura. Trouxe mais movimento e comodidade às pessoas”, salientou.
Para o presidente da Câmara de Murça, Mário Artur Lopes (PSD), “é melhor ter o tribunal aberto”, no entanto, ressalvou que ficou “aquém das expectativas” defendendo, por isso, também mais serviços e especialidades para estas estruturas judiciais.
Em Sabrosa, o presidente Domingos Carvas (PS), referiu que o tribunal representa “um símbolo do poder que se reinstalou”, no entanto lamentou porque este “não voltou a ser o tribunal que era, nem a ter o mesmo peso”, passando a ser “apenas uma secção jurídica”.