A Câmara de Vila Real quer inscrever a Procissão do Bom Jesus do Calvário, uma das maiores manifestações de fé do concelho, no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (INPCI), para proteger a tradição que remonta ao século XIX.

“Estamos a trabalhar no processo de inscrição da Procissão do Bom Jesus do Calvário no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. Aquando da construção do Plano Estratégico Municipal de Cultura de Vila Real 2030 tínhamos intenção de valorizar o Património Cultural Imaterial e a melhor forma [de o fazer] é identificá-lo, estudá-lo e, depois, se possível, inscrevê-lo no INPCI”, afirmou hoje a vereadora da Cultura da Câmara de Vila Real, Mara Minhava, em conferência de imprensa.

A Procissão do Bom Jesus do Calvário é uma das maiores manifestações de fé do concelho de Vila Real e que remonta ao século XIX.

Segundo o coordenador do projeto de candidatura, Vítor Nogueira, a origem desta está diretamente ligada aos problemas que afetaram, à época, a Região Demarcada do Douro, “calamidades” relacionadas com pragas e fundos.

“Ao contrário da maior parte das procissões e manifestações religiosas desta natureza, curiosamente, sabemos quando surgiu esta procissão e porquê: aparece em 1854, numa altura em que a região do Douro vivia o primeiro embate causado pelo aparecimento do [fungo] oídio, pedindo a proteção divina para essa calamidade”, explicou o historiador.

A procissão voltou a realizar-se apenas ao fim de três décadas para, depois, ganhar força e dimensão, a qual extravasa o concelho de Vila Real na atualidade.

“No contexto da própria Região Demarcada do Douro, muitas das procissões de penitência foram desaparecendo, mas ainda encontramos esses traços tão característicos na Procissão do Bom Jesus do Calvário, como a incorporação no cortejo de muitos fiéis descalços”, afiançou.

Vítor Nogueira está a reunir as características “que fazem desta uma manifestação distinta e verdadeiramente importante”, em conjunto com a comunidade local e a Ordem Franciscana Secular, com o objetivo de obter a desejada inscrição no INPCI.

Esta servirá “para reconhecer formalmente o valor cultural e histórico desta tradição, mas também para atribuir uma proteção legal que ajude a preservar, a promover esta manifestação cultural e religiosa para as gerações futuras”, vincou o presidente da Câmara de Vila Real, Rui Santos.

No âmbito do “Levantamento Nacional do Património Cultural Imaterial (PCI) 2022", a Câmara de Vila Real já tinha manifestado intenção de inscrever o andor da Senhora da Pena, a procissão do Bom Jesus do Calvário, as tradições de Santa Luzia e São Brás e as tunas rurais do Marão e Alvão, esta última em articulação com os municípios de Santa Marta de Penaguião e Amarante e a associação Arquivo de Memórias.

Mara Minhava explicou que esta decisão decorre do facto de o município de Vila Real “reconhecer que tem um património muito rico, muito vasto, do ponto de vista histórico e humano, que é preciso classificar” para proteger.

A responsável adiantou, ainda, não haver “resposta final” da candidatura do andor gigante da Senhora da Pena a Património Imaterial, submetida em novembro de 2023 à Direção-Geral do Património Cultural, por se encontrar “em avaliação”.

Foto: Custódio Castro Dias 



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