Vinte residentes e “heróis anónimos” do Douro protagonizam uma campanha de marketing que pretende mostrar que o Património Mundial dos vinhos e do turismo é também um bom sítio para viver e trabalhar.
“Depois do Douro entrar na moda pelo turismo, depois do Douro entrar na moda pelos vinhos, deve também entrar na moda para viver e para trabalhar. Esta é uma das mensagens da campanha”, afirmou Jorge Sobrado, secretário técnico de estratégia e comunicação da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N).
A agência Lusa acompanhou, no Peso da Régua, distrito de Vila Real, uma das sessões fotográficas que juntou dois protagonistas da campanha: a professora Ivete Gonçalves e o padre e empreendedor social Amadeu Castro.
Foi com “gratidão” que Amadeu Castro 50 anos, aceitou dar o seu testemunho.
“Cada um de nós já faz parte desta história. Eu sou um no meio de tantos que contribuíram para que, de facto, este Douro seja uma região diferente”, afirmou.
O sacerdote do concelho de São João da Pesqueira fundou dois lares de idosos e a Associação Bagos d’Ouro que trabalha em seis concelhos e apoia 250 crianças. Foram criadas nestas instituições cerca de 60 postos de trabalho que ajudaram a fixar famílias.
“Esta é uma região fantástica, é a criação e obra de Deus, mas transformada pelo trabalho, suor e pela presença do homem”, referiu.
No entanto, acrescentou, esta é ainda uma região “muito desigual”. “O Douro passa pela imagem da paisagem, do turismo e do vinho, mas esquecemos que é a região mais pobre da União Europeia e é essa pobreza que me leva também, como agente social e como padre, a mudar esta história e a mudar rumos “, salientou.
Ivete Gonçalves, 48 anos, vive na Cumieira (Santa Marta de Penaguião) e dá aulas em Sabrosa. É professora de português e diretora do curso profissional de turismo.
“Estou cá por convicção e porque acredito que estou no lugar certo”, afirmou.
Na escola tenta incutir aos alunos o “gosto e o encanto” pela região à qual eles pertencem e onde o “casamento entre a natureza e a mão do homem foi mais feliz”. “O Douro não é só um lugar onde as pessoas vêm fazer turismo é também um lugar onde se pode viver e pode viver bem”, salientou.
Ivete Gonçalves acredita que estes 20 anos “puseram o Douro no mundo”, mas credita que este é o momento para “refletir sobre o futuro”.
É que, referiu, alguns dos seus alunos vão ficando no território, mas “muitos vão saindo” para outras zonas do país ou outros países.
“Não porque não tivessem oportunidade para trabalhar aqui e até na área do turismo, porque tinham, mas eles querem fazer outras coisas. Não estão ainda convencidos de que podem ficar aqui e que este pode ser o seu lugar”, frisou.
Amadeu e Ivete são exemplos de pessoas que, segundo Jorge Sobrado, ajudam a “juntar gerações, a fortalecer os laços de vinculação ao território e a resolver problemas sociais ou a melhorar os níveis educacionais”.
A campanha valoriza o papel de quem trabalha nas áreas da vinha e turismo, mas também de quem se dedica à cultura, educação, às causas sociais e ambientais.
É quase, acrescentou, “uma arqueologia ao Douro humano”. Jorge Sobrado disse que se foi escavar as histórias de pessoas que marcaram os últimos 20 anos e que podem vir a marcar as próximas décadas, histórias que podem ser conhecidas no site dedicado a 20 histórias do Douro e através de ‘outdoors’.
Este território tem cerca de 190 mil habitantes, menos 30 mil do que há 20 anos.
“Repovoar o Douro é seguramente um dos desafios que a região tem. Aliás, os operadores económicos ligados à vinha, ao vinho e ao turismo têm mostrado preocupação sobre a capacidade de recrutar pessoas”, referiu.
Portanto, acrescentou, essa capacidade de “renovar demograficamente a região” é uma das mensagens da campanha de marketing territorial que procura trazer este “tema para a agenda dos 20 anos do Património Mundial”.
O projeto está incluído nas comemorações do Douro Património Mundial, cujos 20 anos se assinalam na terça-feira.
A vice-presidente da CCDR-N, Célia Ramos, referiu que se pretende valorizar a “cultura, a identidade, o sentido de pertença do duriense e, ao mesmo tempo, dar condições para que as atividades que são desenvolvidas melhorem, porque só assim se conseguirá manter a autenticidade e a integridade da paisagem”.
“O Douro é uma obra de arte de autor coletivo e anónimo”, afirmou.