Os viticultores do Douro queixam-se de um ano muito difícil na vinha, com ataques de doenças como o míldio e a podridão negra, que obrigam a muitos tratamentos, a despesas “brutais” e podem originar perdas na produção.

O ano de 2016 começou com um inverno e uma primavera com muita chuva. Primeiro foram os estragos com a derrocada de muros e patamares de vinhas durienses e mais recentemente, devido à elevada humidade, a pressão das doenças, principalmente do míldio.

“Este é um ano para esquecer. Já tive que fazer sete tratamentos no total. Por semana estou a gastar à volta de 1.100 euros em produtos e mais 30 euros de combustível por dia com os dois tratores”, afirmou o viticultor Manuel Vilela.

Com vinha em Cheires, concelho de Alijó, o produtor disse à agência Lusa que esta região está a ser muito afetada pelos ataques das doenças. Ao míldio junta-se em alguns locais a podridão negra e começam também a surgir casos de oídio.

“Estamos a tentar salvar as varas e as videiras, porque produção aqui vai haver muito pouca nesta vindima”, frisou.

As condições climáticas obrigam a uma atenção redobrada na vinha. “Tenho trabalhado 12 horas por dia e nem temos tido feriados ou fins de semana. Andamos exaustos”, lamentou Manuel Vilela.

Em Gouvães do Douro, Sabrosa, as queixas são idênticas. Nos seus 12 hectares de vinha, António Pereira já vai com o terceiro tratamento e contabiliza “grandes despesas” nesta luta contra as doenças.

“Ao desgraçado do agricultor aparece tudo pela porta. Andamos com o coração nas mãos até às vindimas”, sublinhou.

Abraão Santos contabiliza quatro tratamentos na sua vinha de quatro hectares em Alvações do Corgo, Santa Marta de Penaguião, e “o ano ainda vai a meio”. “Há anos inteiros que nem quatro se fazem. Assim a gastarmos em fitofármacos e a vendermos a pipa a 150 euros não dá. Tem sido uma despesa brutal”, frisou.

Nas suas contas, em produtos e mão-de-obra os gastos são de “cerca de 130 euros por hectare”.

Abraão Santos disse ainda que perspetiva uma quebra na produção na ordem dos “20 a 30%”.

“Este tem sido um ano muito complicado devido às condições climáticas que se têm feito sentir”, afirmou à Lusa Rosa Amador, diretora geral da Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID).

Apesar da Região Demarcada do Douro (RDD) ser um território muito heterogéneo, tem-se verificado uma pressão de míldio nas três sub-regiões: Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior.

O míldio da videira é um fungo que pode infetar todos os órgãos verdes da planta – folhas, cachos e pâmpanos. A podridão negra é uma doença que provoca manchas escuras e causa estragos nas folhas, pâmpanos e cachos.

Por sua vez, o ataque do oídio provoca a paragem do crescimento da pele dos bagos, que acabam por fendilhar, deixando as grainhas a descoberto.

A ADVID e a Estação de Avisos do Douro, do Ministério da Agricultura, emitem circulares logo que se verifica um episódio relevante para a atividade vitivinícola, procurando reagir “tão cedo quanto possível” de forma a proteger a vinha e o vinho duriense.

Por sua vez, Rosa Amador referiu que, de uma maneira geral e de acordo com os dados fornecidos pelos associados desta organização, “não deverá haver uma quebra de produção para quem tem a doença controlada”.

As previsões sobre as expectativas de vindima para 2016 vão ser divulgadas pela ADVID durante o mês de julho.
Lusa



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