Viticultores do Douro querem implementar um sistema de luta preventiva contra o granizo, uma espécie de balão de São João que é lançado na atmosfera, dissolve as pedras em água e poderia evitar os prejuízos na vinha.
Nos últimos dias, sucedem-se os alertas devido à previsão de trovoadas e queda de granizo. No Douro, os produtores de vinho andam com os olhos postos no céu e preocupados com a “lotaria” do tempo. Apesar de previsível nunca se sabe exatamente onde vai cair e quão destrutivo pode ser.
No final de 2019, foi criado o Comité de Combate ao Granizo no Douro com o objetivo de implementar um sistema de luta preventiva contra o granizo e avançar com uma área piloto entre Alijó, Pinhão, Sabrosa, zona especialmente afetada na última década.
Rui Soares, presidente da ProDouro - Associação de Viticultores Profissionais do Douro, destacou à agência Lusa a importância do projeto, cujo método já é aplicado em países como a França, Alemanha ou Hungria, e disse que a sua concretização está a ser atrasada por “falta de financiamento” e também “de vontade política”.
“Com esta falta de soluções, não temos efetivamente nenhuma ferramenta ao nosso dispor e continuamos a olhar para o céu na expectativa. A única coisa que se pode fazer é rezar”, desabafou Rui Soares.
O financiamento pode ir dos 350 mil euros (sistema manual) ao 1,2 milhões de euros (sistema automático), estando já garantida uma verba de 70 mil euros para a aquisição do radar meteorológico.
Ambos os métodos visam ajudar a mitigar as consequências da queda de granizo e a destruição da videira e da uva, e consistem na libertação de uma espécie de balão de São João para a atmosfera, onde se destrói e liberta um princípio ativo à base de cálcio que transforma as pedras de granizo em água.
Rui Soares explicou que “há um apoio declarado” dos municípios de Alijó e de Sabrosa para financiar o projeto, mas que, até à data, “ainda não se concretizou”.
Contactado pela Lusa, o presidente da Câmara de Alijó, José Paredes, afirmou manter o apoio ao projeto a “todos os níveis” e adiantou que este pode avançar “com duas versões”.
A versão mais barata apresenta, segundo o autarca, “encargos muito grandes a longo prazo, porque requer mão-de-obra especializada e permanente”, enquanto a outra versão é “completamente automatizada”.
E foi esta versão, a automática, que foi proposta ao Ministério do Ambiente, no âmbito do Roteiro para o Desenvolvimento Sustentável e Integrado das Terras de Miranda, Sabor e Tua, decorrente da venda das concessões das seis barragens transmontanas.
“Este projeto colheu a simpatia dos restantes quatro municípios do vale do Tua. Propusemos um projeto para Alijó, Carrazeda de Ansiães, Mirandela, Murça e Sabrosa para a vinha, olival, fruta e que totalizaria cerca de cinco milhões de euros, na versão mais moderna, completamente automatizada”, salientou.
No entanto, acrescentou, “infelizmente, o projeto não foi contemplado”.
“Não estamos convencidos da resposta que nos deram, de que não haveria forma de enquadrar isto neste tipo de financiamento, quando eu estou convencido de que, no âmbito da transição climática, ele teria todo o enquadramento e assentaria que nem uma luva”, afirmou.
Por isso mesmo, o autarca disse que escreveu ao ministro do Ambiente alertando-o para o facto de, fruto das trovoadas frequentes e da queda de granizo, está em causa o “aparelho produtivo” desta região e “é o momento ideal para se tomar uma decisão”.
“Acredito que o Ministério acabará por repensar a sua decisão. Se assim não for, nós temos já um acordo com a ProDouro e a Câmara de Sabrosa e avançaremos a expensas próprias, dos municípios, na versão mais rudimentar, mas que não era desejável porque a longo prazo tem encargos de funcionamento e de manutenção muito significativos”, frisou.
Também o presidente da Câmara de Sabrosa, Domingos Carvas, garantiu a disponibilidade para apoiar financeiramente o projeto e destacou a sua importância para a proteção da viticultura, a principal atividade económica do concelho.
Rui Soares explicou que será instalado, no centro da área a proteger, um radar meteorológico, cuja informação recolhida é interpretada através de um software, que pode ser instalado num telemóvel, e emite alertas para a zona potencialmente atingida.
No terreno, são depois libertados os balões, de forma manual ou automática, que se destruirão a uma altitude de 600 metros, libertando o princípio ativo que irá dissolver as pedras de granizo.
O responsável salientou que, neste método, é usado um princípio à base de cálcio, que existe na natureza e não é poluente.
“É uma operação de modificação do tempo, princípios que começaram nos anos 50 do século XX”, referiu Rui Soares.
O Comité é formado pela ProDouro, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), a Associação para o Desenvolvimento Da Viticultura Duriense (ADVID) e as adegas cooperativas de Favaios e Sabrosa.