A viticultora Teresa Barbosa ficou “sem chão” em 2023 quando confrontada com uma dificuldade inesperada de escoar a produção e, por isso, idealizou realizar a primeira Mostra da Uva do Douro para agilizar a comercialização.

A mostra, que ao invés de vinho quer transacionar uva, realiza-se entre hoje e sábado, em Sabrosa, distrito de Vila Real, e junta cerca de 30 viticultores a potenciais compradores da Região Demarcada do Douro.

“No ano passado, a empresa a quem nós vendíamos comunicou-me um mês antes da vindima que só iria ficar com parte da produção. Fiquei sem chão e a pensar onde iria colocar o resto das uvas”, afirmou a produtora, que tem vinha em Celeirós do Douro, no concelho de Sabrosa.

Teresa Barbosa desdobrou-se em contactos pela região e acabou por conseguir vender a restante uva a três novos compradores.

Perante a dificuldade sentida pela primeira vez em 2023, a viticultora idealizou a realização de um evento que permite aumentar, aos produtores, a carteira de contactos com casas comerciais, enólogos ou até restaurantes que queiram fazer vinho.

Na Mostra da Uva do Douro há, essencialmente, uma troca de dados, como, por exemplo, a localização da vinha, as castas de uvas ou quantidades.

“É como se fosse um menu”, afirmou a responsável, salientando que ao realizar-se nesta altura permite aos compradores a visita às propriedades e ver a evolução da uva.

Na região teme-se um agravar das dificuldades sentidas na última vindima relativamente à venda de uvas e ao preço e já há operadores que informaram agricultores que não vão ao mercado devido a um excesso de ‘stock’ de vinho.

“Este ano vai ser muito pior”, considerou Teresa Barbosa, que perfectiva cortes na quantidade de uva a transacionar e no valor, adiantando que já estão a tentar comprar “uvas sem preço”.

Isto num ano em que a instabilidade meteorológica, com bastante chuva, tem obrigado à realização de mais tratamentos na vinha, o que aumenta ainda mais os custos de produção. A viticultora disse que já fez sete tratamentos este ano.

A mostra é organizada em conjunto pela Associação dos Viticultores Profissionais do Douro (Prodouro) e a Câmara de Sabrosa.

Rui Soares, presidente da Prodouro, disse que o evento quer ajudar os viticultores a comercializarem as suas uvas e defendeu soluções, antes da vindima, para evitar os constrangimentos verificados no ano passado.

“Temos que prevenir o cenário de 2023”, frisou, lembrando as grandes filas de produtores à porta das adegas onde tentavam deixar a sua produção.

Importante, para o dirigente, é que a uva não seja vendida a qualquer preço, mas ao “preço justo”.

“Que deixe ficar remuneração ao viticultor e que lhe permita ganhar dinheiro, porque esta é uma atividade económica como outra qualquer. Precisamos que os negócios sejam feitos, mas sejam feitos a preço justo”, defendeu.

Rui Soares mostrou-se ainda preocupado com os “sinais alarmantes”, já que surgem informações de mais operadores que estão a informar os viticultores de que ou não querem uva ou a porem limites às quantidades de uva que podem entregar na vindima de 2024.

“Temos um problema de gestão de ‘stocks’, um problema nacional e transversal a todo o país, e agravamos o problema com a importação de vinho que vem da União Europeia, nomeadamente de Espanha”, afirmou ainda Rui Soares.



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