Os centros de saúde do Distrito de Bragança vão criar um serviço de apoio a grávidas vítimas de violência doméstica porque, segundo revelaram hoje responsáveis locais, ao contrário do que se pensa estas mulheres não estão mais protegidas.
\"Existe a ideia de que durante a gravidez serão menos os casos, mas a realidade mostra que as mulheres não estão mais protegidas. Há uma prevalência elevada da violência doméstica\", disse Berta Nunes, directora do Agrupamento de Centros de Saúde do Alto Trás-os-Montes (ACES-Nordeste).
Ter um melhor conhecimento do que se passa nesta área é o propósito de um estudo a realizar em todos os centros de saúde da região, onde vai ser criado um serviço de apoio às grávidas, que funcionará como projecto-piloto no país.
O anúncio foi feito hoje no lançamento de uma campanha do ACES-Nordeste contra a violência doméstica, uma data considerada pelos presentes \"simbólica\" por coincidir com a aprovação na Assembleia da República de nova legislação.
O ACES-Nordeste vai espalhar pelos serviços públicos regionais dois cartazes dirigidos a mulheres de faixas etárias diferentes a apelarem àquelas que são vítimas pela primeira vez para não tolerarem uma segunda agressão porque \"quanto mais cedo, melhor\", e à a lembrar a quem convive com a violência prolongada que\"nunca é tarde demais\".
\"Se é vítima de violência doméstica, os profissionais do seu centro de saúde podem ajudar\" é a mensagem que a campanha quer fazer chegar à população do distrito que tem em todos os centros de saúde núcleos de apoio com equipas multidisciplinares dedicados a esta problemática.
A campanha contempla também a divulgação de outra informação, nomeadamente da nova legislação, através de panfletos e da Comunicação Social.
Vai ser também distribuido material, como pulseiras, para os mais jovens a alertar que \"namoro violento, não é amor\".
Em dois anos, o número de casos de violência doméstica detectados nos centros de saúde duplicou, o que as entidades locais atribuem ao trabalho dos núcleos e dos profissionais que têm recebido formação nesta área.
Os profissionais de saúde são muitas vezes os primeiros a quem a vítima pede apoio.
A violência doméstica é considerada \"um grave problema de saúde pública, com consequências a nível da saúde mental, física, sexual e reprodutiva.
Segundo dados oficiais, o risco de suicido nas mulheres vítimas de violência doméstica é nove vezes superior, têm o dobro das dificuldades em conseguir emprego e o risco de despedimento é também a dobrar.
Os filhos apresentam mais problemas de saúde e um risco superior de insucesso escolar.
Em 2008, a violência doméstica matou 50 mulheres em Portugal e a autoridades nacionais receberam uma média de 76 queixas por dia.