Dias 29 e 30 de Abril, a Grã Ordem Afonsina, sediada em Guimarães, vai inaugurar, em Zamora, uma obra escultórica de Afonso Henriques, alusiva aos 898 anos em que o Rei Fundador se armou Cavaleiro, na Catedral de Zamora. Uma embaixada de Portugueses agradecidos, sobretudo de cidadãos do então Condado Portucalense, vão levar e fixar a escultura, colocando-a em espaço condizente com o simbolismo desse ato heróico que teve o seu auge na Batalha de S. Mamede, em Guimarães, em 24 de junho de 1128. Esse ato mereceu a sintonia política, em 1143, e o reconhecimento papal, em 1179. São dados historiográficos que merecem ser divulgados às novas gerações.
Guimarães fundou, em 2019, uma Associação Cívica que lidera, com mais doze coletividades locais, um protocolo para, em sintonia com a autarquia, comemorarem os 900 anos da fundação de Portugal em 2028. O presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal e o responsável da Fundação Rei Afonso Henriques, de Zamora, formam uma parceria para esta simbólica cerimónia histórica que honra os dois países irmãos. A inauguração da escultura decorrerá, pelas 18 horas de sábado, no espaço ajardinado da Fundação Afonso Henriques. E, no dia 30, às 13 horas haverá missa solene na catedral, por três Bispos: de Zamora, Arcebispo de Braga e de Coimbra. Os atos são livres e espera-se que o fator proximidade, possibilite a presença de muitos patriotas quer Portugueses quer Espanhóis.
A Direção da Associação Grã Ordem Afonsina fez-nos chegar uma carta aberta aos Patriotas. Ei-la:
«I - A Grã Ordem Afonsina tem a honra de anunciar que no dia 29 de abril de 2023 será inaugurada em Zamora, Espanha, uma obra escultórica de Afonso Henriques, executada pelos artistas vimaranenses Dinis Ribeiro (escultor) e Abel Cardoso (arquiteto), dando seguimento à ideia nascida no dia 05 de outubro de 2022, durante as II Jornadas de Património Cultural Intangível de Guimarães realizadas no Teatro Jordão. Houve quatro razões justificativas para a realização desta obra e sua colocação neste local:
a) O facto histórico de D. Afonso Henriques se ter armado cavaleiro na Catedral de Zamora, no dia de Pentecostes de 1125, tendo este ato constituído o prenúncio da dignidade régia que possuía, ou seja, o "batismo" para a importante missão da sua vida: a independência de Portugal e a posterior conquista de terras aos mouros.
b) A circunstância de ter sido Zamora o local onde se deu o importante encontro de paz e amizade entre D. Afonso Henriques e seu primo Afonso VII, no dia 05 de outubro de 1143, na presença do Cardeal Guido de Vico, delegado do Papa.
c) A existência de uma instituição hispano-portuguesa muito prestigiada, com sede partilhada entre Zamora e Bragança, que escolheu e usa a denominação social de Fundação Rei Afonso Henriques.
d) O facto de a população de Zamora manter afeição, respeito e admiração pelo nosso Rei Fundador, a ponto de lhe dedicar uma festividade anual em dia de Pentecostes, promovida pelo "C.T.T. de Zamora y Municípios Limitrofes", para comemorar a sua instituição como cavaleiro.
II - A inauguração da escultura vai ocorrer integrada num evento a que se deu nome de "AFONSO HENRIQUES - ZAMORA 2023", ou abreviadamente AHZ 23, terá lugar no último fim-de-semana de abril (dias 29 e 30), organizado pela Grã Ordem Afonsina em parceria com a Fundação Rei Afonso Henriques e a Sociedade Histórica da Independência de Portugal e com apoios do Ayuntamiento de Zamora e da Câmara Municipal de Guimarães.
A fixação do evento no último fim-de-semana de abril teve em vista aproveitar a referida festividade em honra de Afonso Henriques que costuma ocorrer no dia de Pentecostes, mas que este ano foi antecipada para não coincidir com as eleições autárquicas em Espanha, agendadas para o dia 28 de maio.
Do programa consta a inauguração da escultura, pelas 18 horas no dia 29 de abril (sábado), no espaço ajardinado da Fundação Rei Afonso Henriques (antigo Mosteiro de S. Francisco) e uma Missa solene na Catedral de Zamora, pelas 13 horas do dia seguinte (domingo), presidida pelo Senhor Bispo de Zamora D. Fernando Valera, que, entretanto, dirigiu um convite ao Senhor Arcebispo de Braga e ao Senhor Bispo de Coimbra manifestando o desejo de partilhar com eles a Celebração Litúrgica.
III - Esta iniciativa pretende ser o primeiro passo para a criação de uma rota internacional por superfície que descreva os caminhos percorridos por Afonso Henriques na construção da primeira "portugalidade", ou seja, desse primeiro "país" nascido da sua vontade de independência do reino de Leão. Esse caminho (designado de VIA REGIS ALPHONSI) terá de singular e de valência primordial a narrativa que se pretende depositar sobre cada um dos lugares (aldeias, vilas ou cidades) revelados pela sequência de eventos que levaram à construção de Portugal e ligá-los em rede construtiva, numa estrutura de encadeamento de histórias que permita ao visitante tomar consciência dessa primeira geografia nacional. Este projeto pretende afirmar-se como uma plataforma transfronteiriça integradora de "novos territórios", outrora antagónicos, mas que se podem e devem aproximar. Numa palavra, será um instrumento de marketing territorial, com uma abrangência para além do território nacional, permitindo parcerias e encontros com territórios de Espanha, numa dialética de paridade.
IV - A nova escultura de D. Afonso Henriques terá uma altura de 6 metros e será constituída por dois elementos fundamentais:
a) Um plinto/trono, que permitirá a escultura figurativa elevar-se cerca de 1,80 metros acima do nível do solo e que terá uma imagem muito pragmática do ponto de vista do desenho; b) Por cima do plinto erguer-se-á uma escultura figurativa de D. Afonso Henriques, em linguagem contemporânea, representando um jovem mancebo, no pico da sua tenra adolescência e amarrado a um elemento primordial da narrativa cavaleiresca: a espada. O peso total da escultura rondará as 15 toneladas e será esculpida em três tipos de pedras diferentes:
1) O granito da região de S. Torcato, por ser um lugar mítico da narrativa da reconquista cristã da península;
2) A pedra mármore, a simbolizar a ligação de Afonso Henriques às suas conquistas no sul de Portugal;
3) A pedra Negro Angola, a encerrar esta trilogia de materiais e que ligará o elemento escultórico à diáspora portuguesa, que se veio a verificar poucos séculos depois.
À semellhança do que se verificou na escultura de Soares dos Reis, em que o plinto original da escultura foi concebido por um arquiteto amigo pessoal do escultor, os autores desta nova escultura resolveram agarrar essa tradição de uma peça artística poder ser feita a duas mãos, ou seja, ser um trabalho conjunto de um escultor e um arquiteto, ambos habituados a trabalhar com espaço e com materiais.
Os portugueses estão habituados a imaginar Afonso Henriques ligado à figura que está esculpida por Soares dos Reis em Guimarães, ou seja, um homem na casa dos 30/40 anos, no seu vigor físico e intelectual. Desta vez, Afonso Henriques será representado na sua fase de adolescente, dado que quando se deslocou a Zamora para se armar cavaleiro tinha apenas 14 anos. Com esta nova escultura de Zamora, os autores pretendem abrir uma nova porta ao nosso imaginário, apresentando uma figura de Afonso Henriques como adolescente, uma figura singela de um rapaz a meio da sua puberdade e a investir-se como cavaleiro, num gesto que lhe permitiu ajoelhar-se jovem e erguer-se Homem.
Segundo as palavras de Bernardo Sá-Nogueira, (in National Geographic Portugal) "Guimarães é seguramente a cidade portuguesa que mais se apropriou da memória coletiva do reinado de D. Afonso Henriques, integrando-a na sua oferta turística. Até o clube de futebol local usa a imagem estilizada do monarca". Estamos certos que D. Afonso Henriques representa o maior ativo intangível de Guimarães!
Florentino Cardoso