As aldeias de Bruçó, Bemposta e Vale de Porco, no concelho de Mogadouro, distrito de Bragança, estão apostadas na salvaguarda das tradições ancestrais dos rituais e figuras ligadas ao solstício de inverno, características do Nordeste Transmontano.

Depois da associação Maschocalheiro, em Bemposta, e da Associação Etnográfica dos Velhos de Vale de Porco, recentemente foi criada a Associação dos Velhos e Chocalheiro de Bruçó, que visa também a salvaguarda do património etnográfico.


Em declarações à Lusa, o presidente da Associação dos Velhos e Chocalheiro de Bruçó, César Teixeira, disse hoje que esta nova coletividade tem como matriz a preservação e promoção da tradição dos Velhos de Bruçó, realizando eventos culturais e comunitários que divulguem e mantenham viva esta tradição ancestral e que se realiza no dia de Natal.

A festa dos Velhos de Bruçó conta com dois casais distintos como seus atores. Um casal de velhos e outro formado pela Sécia, mulher leviana, e o Soldado, encarregado de proteger a sua dama.


A atuação destas personagens que celebram os ritos da festa dos Velhos, perante o povo e em interação com ele, caracteriza-se por peditórios pela aldeia, representação de casamentos burlescos, simulação do ato reprodutor e recriação dos trabalhos fundamentais à sobrevivência da comunidade como a agricultura.

Para o presidente da Junta de Freguesia de Bruçó, João Geraldes, o principal objetivo desta nova associação é o manter viva a tradição de “Os Velhos”, que é muito acarinhada pela população e por todos os que visitam a aldeia no Natal, para se envolverem com este ritual ancestral do concelho de Mogadouro de forma muita ativa.


“Para além de manter vivo este ritual de fertilidade, típico do tempo frio de inverno, vamos apostar em reavivar as tradições de São João, entre outras atividades etnográficas”, disse o autarca.

Ao longo do ano, os “Velho de Bruçó” participam em vários cortejos etnográficos, tanto em Portugal como no estrangeiro, nos quais dão a conhecer “a nossa tradição que está tão enraizada na matriz cultural da nossa gente”, indicou o presidente da freguesia.

Segundo o investigador António Tiza, estes rituais, que envolvem figuras "demoníacas e pantomineiras mascaradas" e que encarnam ritos de "fecundidade e abundância", são cultos a prestar nas festas de inverno no nordeste transmontano, que misturam o profano com o sagrado.

No âmbito da preservação destes rituais de inverno ligados à fertilidade, em Mogadouro, nos últimos oito anos foram recuperadas as figuras da Mascarinha e Mascarão, em Vilarinho dos Galegos, e o Careto de Valverde, reavivadas pelo investigador local Antero Neto.


Se no passado estas festividades estavam reservadas aos homens, com o despovoamento do interior as populações começaram a introduzir algumas mudanças nos rituais para os manter vivos e as mulheres começam a ocupar um lugar de destaque, por forma a manter viva a tradição.

No concelho de Mogadouro as figuras mais emblemáticas destes rituais são os Chocalheiro de Bemposta, Velhos de Bruçó, o Farandulo de Tó, o Chocalheiro de Vale de Porco ou o Careto de Valverde.




Texto: FYP // JAP (Lusa),  Fotografia: Bruno Taveira (Diário de Trás-os-Montes)


Aldeias de Mogadouro apostadas na preservação dos rituais do solstício de inverno

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