O presidente do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), Orlando Rodrigues, afirmou ontem, na Praia, que a comunidade cabo-verdiana está “perfeitamente integrada” localmente e que só em 2019 receberam 2.400 candidaturas de estudantes de Cabo Verde.
Os dados foram avançados em entrevista à Lusa pelo dirigente, que está em Cabo Verde para participar no funeral do estudante cabo-verdiano do IPB Luís Giovani, que morreu em 31 de dezembro após agressões à saída de um bar em Bragança, ocorridas dez dias antes.
No total de 9.000 alunos do IPB, nos polos de Bragança e de Mirandela, um terço são estrangeiros, de 70 nacionalidades diferentes, sobretudo de países de língua portuguesa. Só de Cabo Verde são atualmente 1.200 a frequentar os cursos da instituição.
“A comunidade cabo-verdiana é profundamente bem acolhida pela população. Perfeitamente integrados e bem acolhidos, em profundo afeto com a população local”, assegurou Orlando Rodrigues.
A relação do IPB com Cabo Verde tem quase duas décadas, mas foi intensificada nos últimos dez anos, com acordos entre a instituição e vários municípios cabo-verdianos, permitindo o acesso de alunos através de concursos locais para estudantes internacionais.
No caso de Cabo Verde, só no último ano letivo, iniciado em setembro, foram abertas vagas para 600 estudantes cabo-verdianos no IPB, tendo a instituição recebido quatro candidaturas por cada vaga (2.400 no total).
“Para cada vaga tivemos quatro candidatos. Foi um processo de seleção baseado nos resultados do ensino secundário desses alunos. São alunos muito bons, na maioria, muito bem formados e que têm bons resultados académicos”, enfatizou o presidente do IPB.
Em Bragança, os alunos cabo-verdianos, fruto desses acordos com os municípios, beneficiam de uma "bolsa de redução da propina", que na prática reduz o valor pago por um aluno internacional para o equivalente à do aluno nacional.
“Portanto, os estudantes cabo-verdianos que têm ido ao abrigo desses acordos pagam a mesma propina que os alunos portugueses (…) auferem dos mesmos benefícios, inclusivamente terem uma bolsa para fazer Eramus em qualquer país europeu”, apontou ainda Orlando Rodrigues.
Em 2019, o contingente de 600 vagas para cabo-verdianos no IPB foi “o maior de sempre” e só não foi ainda totalmente concretizado por atrasos na emissão de vistos para os alunos selecionados.
“Porque vimos construindo uma parceria com Cabo Verde sustentada com acordos com as Câmaras Municipais e outras instituições”, justificou, a propóstio destes números.
O presidente do politécnico de Bragança garante que a existência de “várias culturas, várias religiões, várias origens geográficas é claramente uma grande mais-valia na formação” dos alunos que procuram a instituição e algo “a preservar”.
Acrescenta que o caso do estudante cabo-verdiano que morreu na sequência de agressões no noite de 21 de dezembro à saída de um bar em Bragança - tendo a Polícia Judiciária anunciado hoje a detenção de cinco suspeitos -, “não belisca” esta relação com Cabo Verde.
“Antes pelo contrário. Continuamos chocados e em dor, mas só fortaleceu estes laços”, garante, destacando que a comunidade estudantil cabo-verdiana é conhecida em Bragança por ser “muito ativa”, desde logo em termos culturais e desportivos.
“O que suscita mais afeto ainda pela comunidade, por serem tão envolvidos”, explica.
Segundo Orlando Rodrigues, o IPB formou, sobretudo nos últimos 10 anos, “milhares de cabo-verdianos” e “de forma alguma” os contornos envolvendo a morte de Luís Giovani afetaram a segurança dos restantes estudantes de Cabo Verde em Bragança.
“Ainda assim uma mensagem de tranquilidade para Cabo Verde, para os pais: Os vossos meninos, as vossas meninas estão perfeitamente seguros na nossa cidade. Não há qualquer tipo de insegurança que tenha aumentado por este facto e infelizmente esta tragédia serviu para nos por alerta para fenómenos marginais que não imaginávamos que existiam”, concluiu.
Fotografia: Lusa