Foi inaugurada oficialmente na Capital do Nordeste a Plataforma de Arte e Criação, uma autêntica casa para artistas que poderão ensinar, criar e expor os seus trabalhos com total liberdade criativa.

 

Foi inaugurado no centro histórico da cidade de Bragança um novo espaço onde a Arte é rei e senhora. Da pintura à escultura, da música ao teatro, passando pela poesia, tudo sob o teto da Plataforma de Arte e Criação. Um espaço aberto a todas as manifestações artísticas e culturais, que não negligencia os mais novos e, inclusive, os cidadãos portadores de deficiência.

Miguel Moreira e Silva e Alexandra Dias são os coautores de um projeto que oferece residência para retiro de artistas, espaço para exposição e formação, tendo na sua génese “a ambição de que cada criador se sinta num espaço em que a porta está aberta para ele".

“Calhou-me, assim, o cargo de presidência, mas mais por uma questão de tirarmos proveito daquilo que cada um tem de maior virtude, ele das artes plásticas e eu da parte da organização, de estruturação dos projetos e da própria conceção, no fundo, de organização pedagógica porque esta visão tem uma componente pedagógica muito forte”, começou por elucidar a mentora do projeto, explicando a origem do nome da associação a que preside, “Lux & Sphaera”, em português, Luz e Esfera. “Tem um nome impronunciável, mas decidimos ir buscar dois elementos que são muito importantes na produção de desenho e na pintura e, depois, brincámos porque achámos que ficava mais interessante em latim”, esclareceu Alexandra Dias que tem, também, na pintura um dos seus hobbies.

Professora de literatura e artes plásticas, esta ideia, recorda, nasceu “do outro lado do mundo”, nas Ilhas Fiji, onde lecionava na universidade. Concebido o projeto na sua mente, mas não tendo a possibilidade de o colocar em prática, a ideia foi amadurecendo e quando chegou à Europa, mais concretamente a Bragança, partilhou-a com, na época, uma das suas mais recentes amizades, um artista já de nome feito, Miguel Moreira e Silva. E por ambos se completarem, deu-se, então, o clique e juntos lançaram-se nesta aventura movidos por uma paixão em comum, a Arte.

“Plataforma porque se pretende que seja um espaço multidisciplinar, dentro daquilo que são as artes plásticas, mas, depois, multiartístico porque nós estamos, na essência, circunscritos às artes plásticas, mas temos sempre a porta aberta para que outras artes venham aqui confluir também”, esclareceu Alexandra Dias, estendendo o convite a todas as manifestações artísticas, “primordialmente, a música, pequenas performances de teatro, temos já um projeto para breve”, adianta, mas sem esquecer a escultura, a pintura e claro está as máscaras tradicionais da região. “É essa a ambição”, confessa a docente universitária, cujo gosto particular por tudo o que exalte os sentidos a levou a investir neste projeto de criação, “para que cada criador se sinta aqui num espaço em que a porta está aberta para ele, quer do ponto de vista da produção, quer do ponto de vista da receção”.

 

A designação do termo Arte vem do latim Ars, que significa habilidade e denota, frequentemente, um reflexo da época e cultura vividas.

 

Quanto à noção de que a arte é só para alguns, Xana como é conhecida entre os amigos, desmistifica essa ideia pré-concebida: “nós temos aqui um leque de quadros com preços bastante acessíveis e, portanto, a arte não é algo inacessível para a bolsa de cada um e só queremos que as pessoas venham cá, se divirtam e se quiserem aprender a fazer máscaras, a pintar acrílico ou a óleo ou uma aguarela, terão sempre aqui um destino”.    

Para além de um acesso privilegiado aos meandros artísticos, focado nos diversos processos de criação, onde se contemplará nas oficinas e nos ateliers um convite extensível, sobretudo, às crianças, aos alunos e às pessoas portadoras de deficiência, outro dos aspetos a sublinhar neste projeto eclético, permeável e diferenciador que visa, em grande parte, a formação multidisciplinar, é a componente de residência artística. “A nossa ideia, de Plataforma de Arte e Criação, é nós sermos um espaço onde as pessoas possam vir fazer residências artísticas e para que os artistas de todos os pontos do país e não só, porque pretendemos, muito em breve, estendermo-nos à Península Ibérica e fazermos aqui um cruzamento interartístico com a arte ibérica e, fundamentalmente, que os artistas sintam que este é um espaço onde podem vir para estar e ficar durante uns dias e a casa é virtuosa nesse sentido, pois são convidados a permanecerem numa espécie de retiro artístico criativo”, alicerçou Alexandra Dias, que procura uma cooperação entre instituições como, por exemplo, o Instituto Politécnico de Bragança, no sentido de trazer alunos ao espaço recém-inaugurado e os mesmos poderem observar e interagir com os artistas.

Natural de Bragança e formada na área da literatura, mais precisamente Línguas e Literaturas Portuguesas, investigou, posteriormente, o cruzamento da literatura com as artes plásticas e tanto a tese de mestrado como a de doutoramento pautaram-se por essa dimensão simbiótica de dois mundos completamente distintos mas que se cruzam quase como numa quintessência perfeita. No entanto, foi em Estética que Alexandra Dias se especializou. E apesar de este ser um projeto detentor de todos os fundamentos para dar certo, a verdade é que o mesmo não se refletiu, ainda, em apoios institucionais, tendo exigido um investimento inicial e, agora, contínuo da parte dos coautores desta original e ambiciosa criação. Contudo, nas palavras da presidente da Associação Lux & Sphaera, “vale a pena investir porque o fazemos com amor e quando se nota essa paixão que temos por qualquer coisa tudo vale a pena”, advogou a docente, esperando, no próximo ano, que os apoios institucionais se concretizem de forma que a própria Plataforma de Arte e Criação tenha algum retorno, permitindo-lhe dar um salto qualitativo na sua programação, até porque o material das artes plásticas utilizado nas oficinas é bastante dispendioso, para além do aluguer da casa, das despesas correntes e de toda a logística que uma associação, naturalmente, envolve.   

 

Arte é definida como uma atividade que manifesta a estética visual, desenvolvida por artistas que se baseiam nas suas próprias emoções.

 

Na inauguração da Plataforma de Arte e Criação, onde compareceu uma pequena multidão entusiasta pelo arranque de um espaço que se espera que marque a rotina cultural citadina, esteve patente uma exposição coletiva com obras dos artistas Dila Moniz, das Caldas da Rainha, Luiz Morgadinho, de Seia, Mutes, de Arcos de Valdevez, e Costa Araújo, de Braga, para além de algumas obras de Miguel Moreira e Silva e Alexandra Dias. Já a eternizar o momento, em notas dignas de registo, estiveram os irmãos Rómulo e Igor que encantaram o público com a sua interpretação de grandes temas da música clássica.

“Para já, foram estes os artistas que aceitaram o nosso convite. Mas existe um interesse notório de vários artistas de diversos pontos do país e, inclusive, alguns internacionais bastante conhecidos que, estranhamente, têm interesse em vir aqui meter-se connosco neste buraco”, revelou o artista plástico Miguel Moreira e Silva, no tom cru que o carateriza, aproveitando, também, para reiterar o convite feito por Alexandra: “o nosso objetivo é como o próprio nome indica sermos uma Plataforma de Arte e Criação e, assim, nós estamos abertos a todas as áreas artísticas como a serigrafia que, também, estou interessado em aprender, a pintura, a escultura, e as máscaras que são incontornáveis e pretendemos, posteriormente, fazer cerâmica e estamos disponíveis para qualquer tipo de atividade artística, seja literatura, música ou poesia”. Em suma, “pretendemos ser uma casa e uma residência aberta às artes num sentido amplo e que haja uma interdisciplinaridade entre as distintas artes numa conjugação de vários esforços, de várias correntes artísticas com um fim comum”, cimentou o artista que nos últimos anos tem ganho o respeito dos seus pares com trabalhos exímios que não deixam ninguém indiferente.

 



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