Nem sei bem como chamar à minha ida ao 1º Festival Inetrcéltico de Sendim. Não lhe posso chamar simplesmente uma ida nem não foi apenas uma presença. Foi seguramente algo mais…
Ao chegar a Sendim, uma vila perdida em terras de Trás-os-Montes, deixei para trás montes e vales e as inesquecíveis margens do Douro. Uma enorme sensação de distância de tudo e todos invadiu-me e deixou-me um pouco assustada. No entanto, este sentimento depressa desapareceu. E para quem já teve contacto com as gentes do Norte, saberá como. Depressa compreendi que não estava realmente só. Toda a vila estava em expectativa, palpitando com os últimos preparativos para a festa.
Nos vários rostos encontrei um abrigo e foi espontaneamente que encetei diálogos e tirei fotos ao povo de Sendim. Admirados com a minha presença, sozinha, tão longe do corropio de Lisboa, ofereceram-me palavras, sorrisos e ajuda sincera para “o que quer que fosse”. E distanciei-me ainda mais de Lisboa, mas agora sem medo porque em Sendim se fechava uma enorme força que emanava do festival. Estavamos ali e íamos celebrar todos em conjunto algo que no fundo de cada um de nós faria um particular sentido. E o som das gaitas ecoava por toda a vila…
A festa começou, à hora prevista, com uma viagem ao passado nas tradições nortenhas que são, no fundo, as de todos nós. Porque esse movimento descendente de Norte para Sul, em que se fez a conquista das terras portuguesas é também o movimento dessas tradições célticas que arrastaram o som das gaitas do Norte da Europa até à Galiza e desta até Miranda e depois por todo o Portugal. Ao longo da noite, nem o frio da planície fustigada pelo vento amainou as emoções que renasciam a cada acorde.
Já na Taberna dos Celtas, consolidou-se definitivamente o ambiente familiar que começara a nascer. Aquecendo a alma com um caldo verde bem nortenho, pude comprovar que em Sendim não há apenas lugar para a tradição e que a aposta em novos valores musicais foi feita com a certeza de quem sabe que o passado só morrerá no dia em que deixarmos de acreditar no futuro.
Mas o mais íntimo espírito do 1º Festival Intercéltico de Sendim revelou-se nos momentos que se seguiram aos concertos. Porque estávamos todos ali pela mesma tradição, pelo mesmo gosto pela música, os vários artistas juntaram-se e fizeram música até ao nascer do sol. E quem soubesse tocar era bem vindo e quem não tivesse nenhum instrumento que fizesse uso do instrumento mais ancestral que todos temos: a voz.
No dia seguinte, amanheci com a certeza de que em Sendim algo de especial se passava.
Com a enorme afluência às actividades postas ao dispor dos visitantes pela organização, ficou patente que o 1º Festival Intercéltico de Sendim era não apenas um festival de música mas essencialmente um local de aprendizagem, onde se podiam absorver conhecimentos, emoções e aprender uma nova forma de sentir.
Nessa noite consagrou-se definitivamente o 1º Festival Intercéltico de Sendim e senti que essa seria uma experiência que recordaria toda a vida, porque sentia-se uma enorme paz misturada no ambiente eufórico da festa. E de novo se fez música na Taberna dos Celtas. Música lida na alma e não nas pautas.
No domingo, quando o cansaço já era visível em todos os rostos, os “corações celtas” rumaram ao adro da igreja para assistiurem a uma guerreada de gaitas que, com o seu som nostálgico, fazem lembrar penhascos batidos pleo vento, planícies esquecidas no tempo… E pelas ruas de Sendim desfilámos, seguindo esse som hipnotizante…
Tenho uma certeza: o 1º Festival Intercéltico de Sendim foi um enorme sucesso, porque criou um sentimento próprio, que por dias uniu todos os presentes. E não é fácil, não é usual. Só acontece em sítios especiais, em momentos especiais…
Sinto que tenho algo em comum com todos os que lá estiveram. Mesmo que longe de Sendim tenhamos as mais diversas profissões, ocupações, ritmos de vida, teremos sempre algo em comum: participámos no 1º Festival Intercéltico de Sendim, que terá sempre a inocência da primeira vez.
Resta-me esperar pelo 2º festival Intercéltico de Sendim, porque é destas fontes de energia que quero construir o meu futuro… Era esta a palavra que me faltava: o 1º Festival Intercéltico de Sendim foi uma Fonte de Energia.
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