Uma tanoaria de Palaçoulo, no concelho de Miranda do Douro, desenvolveu uma técnica “pioneira” nesta indústria, que, aplicada ao processo de tratamento térmico das barricas, e sem utilizar combustão, vai permitir um estágio diferenciado para vinhos de qualidade superior.

“O tratamento térmico de uma barrica é um dos pilares mais importante da sua construção, tornando-se essencial. Com este tratamento térmico, conseguimos moldar a barrica em função dos vinhos que se vão produzir, conferindo-lhe um perfil e aromas diferenciados, seguindo o conceito do enólogo”, explicou à Lusa o sócio-gerente desta tanoaria situada no Planalto Mirandês, no distrito de Bragança.

Esta nova barrica, com um tratamento térmico “inovador e pioneiro no mundo”, utiliza pedras vulcânicas, semipreciosas (jave) ou até mesmo da região\vinha do produtor para o seu tratamento térmico, sendo um projeto que teve início em 2018.

“Este método de tratamento térmico que nós desenvolvemos é um novo sistema, onde a fonte de calor, que não a combustão resultante da utilização de lenha de carvalho, é uma vantagem. O processo passa por utilizar raios infravermelhos que aquecem as pedras vulcânicas ou outras utilizadas, o que permite acrescentar minerais à produção de vinho, o que é apreciado pelos enólogos”, explicou o empresário José Abílio Gonçalves.

O também enólogo explica que a ausência de fumo resultante da combustão se traduz numa “queima [tratamento térmico] mais subtil e delicada".

“Com este nível de queima não atingimos a pirólise [processo onde a matéria orgânica é decomposta após ser submetida a condições de altas temperaturas e ambiente desprovido de oxigénio], onde, através deste processo, há a transformação de vários elementos químicos existentes na madeira”, vincou José Abílio Gonçalves.

De acordo com o responsável, este processo de combustão “assegura a ausência de pirenos, torrefação e de aromas fumados”.

Deste modelo experimental de barrica já foram fabricadas cerca de cinco mil unidades e exportadas para mercado como dos Estados Unidos, concretamente para a Califórnia, Espanha e França, e, de acordo com os responsáveis pelo projeto, os resultados “mostram-se muito animadores”. Como qualquer projeto pioneiro e inovador em desenvolvimento, também neste “o segredo é alma do negocio”.

“Em Portugal há já duas adegas na Região Demarcada do Douro (RDD) que estão a utilizar estas novas barricas e que se mostram satisfeitos com os resultados finais", disse.

De acordo com os mentores do projeto que utiliza esta técnica pioneira no setor vitivinícola, e que arrancou em 2018, começam agora a surgir os primeiros resultados a nível internacional e nacional. “Temos de ter em conta que o estágio de um vinho em barrica dura entre 12 a 24 meses, no mínimo”, concretizou o empresário.

“Este sistema chega agora ao mercado português, com a barrica ‘Onix’, “o que permite ao enólogo criar um vinho com personalidade única, com um aporte de mineralidade, mantendo a elegância e a expressão da fruta”, frisou José Abílio Gonçalves.

Este projeto será apresentado ao público numa feira ligada ao setor vinícola em Saragoça (Espanha), entre terça-feira e sexta-feira.

Esta tanoaria transmontana nasceu de uma família oriunda de uma dinastia de tanoeiros que remonta ao início do século passado, recriando a filosofia inicial desta arte adaptando-a aos novos tempos, “sempre com a preocupação de conservar todo o saber e tradição, a qual transitou de geração em geração até aos descendentes que vai já na 4ª geração e que são hoje garantia de continuidade da experiência acumulada”.

Esta empresa instalada em pleno Planalto Mirandês, tem vindo “a conquistar os mercados internacionais, exportando hoje cerca de 90% da sua produção, sendo distinguida várias vezes como empresa de modelo”.

A JM Gonçalves, exporta 90% da sua produção, para os mais variados mercados mundiais tais como Estados Unidos da América (Califórnia), Espanha, Alemanha, França, Itália, Áustria, Austrália, Brasil, África do Sul, Nova Zelândia, Argentina, China, Japão, Índia entre outros.

A tanoaria transmontana produz uma média de 17 mil barricas por ano.

*** Francisco Pinto, da agência Lusa ***




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