As tecedeiras de Cerva e Limões, em Ribeira de Pena, querem conciliar a tradição da arte do linho com a inovação de peças, como vestidos de praia, bolsas ou sapatos, que podem ajudar a aumentar as vendas.

A tradição do linho é muito antiga nestas localidades do distrito de Vila Real. Houve tempos em que em quase todas as casas se ouvia o bater ritmado do tear e os campos se enfeitavam com a cor azul da planta do linho.

A marca “Verde Novo”, da empresa Motivos e Memórias, está a desenvolver um projeto de valorização do linho, que passa também por novas abordagens ao ofício.

“É preciso inovar, mas com cuidado, no sentido de não pôr em causa aquilo que é a essência e a identidade destes produtos”, afirmou à agência Lusa António Luís, ligado à iniciativa.

Hoje em dia já são poucas as artesãs que continuam a tecer e apenas três as mulheres que perpetuam este ciclo moroso e complexo.

Maria Augusta faz o ciclo do linho do “princípio ao fim”. Os seus 73 anos foram passados em Limões, terra “limada” - de muita água - onde muito nova aprendeu a tecer, mas também a semear a linhaça que dá depois origem aos fios de linho.

É lá para abril que começam os trabalhos na terra, a qual se prepara para receber a semente. Depois, em julho, é arrancada a planta que, em molhos, é submersa em poços ou tanques durante nove dias e depois fica mais nove dias a corar ao sol e a apanhar nove orvalhos.

Maria Augusta cumpre este calendário com rigor. Já em casa é preciso maçar, espadar antes de ir à roca, depois ao sarilho, passar na dobadoura, nas canelas e só depois chega ao tear.

“O trabalho dura praticamente o ano inteiro. O linho dá muita volta, muita volta”, afirmou à agência Lusa.

Também Margarida Fernandes, 38 anos, cumpre todas estas voltas que o linho dá. Desde os 19 anos que se dedica a esta arte pela qual diz ser apaixonada. “É um processo muito complicado e muito trabalhoso, as pessoas não imaginam o trabalho que dá”, afirmou.

Esta tecedeira disse que, agora, tem tido “mais encomendas”, mas de peças mais pequenas, como toalhas de batizado, panos individuais para as mesas ou quadros.

“Há alturas mais paradas, outras em que se vende mais. Por acaso, nesta altura, em que está a chegar à Páscoa, há mais procura”, salientou.

Fernanda Machado, 41 anos, aprendeu a arte num curso profissional em 2001, ano em que começou também a trabalhar na Cooperativa dos Artesãos Cervenses. Trabalha o linho e faz as tradicionais peças como as toalhas de mesa ou colchas, mas também cria peças mais modernas, como echarpes e até anda a fazer, por estes dias, experiências no tear com vestidos de praia, saias e blusas.

“Estamos a tentar inovar com peças 100% linho”, frisou. A tecedeira referiu que o que ganha ajuda “a sobreviver e manter a cooperativa em pé”.

Ana Maria, 48 anos e de Cerva, começou também com um curso de formação e, depois de trabalhar a tempo inteiro na arte, está agora apenas em part-time.

“Há menos procura. O nosso trabalho mais tradicional não é tão procurado. Primeiro todas as mães vinham fazer os enxovais para as filhas e, hoje em dia, isso já não acontece”, salientou.

António Luís referiu que, no âmbito do projeto, já foram intermediados contactos entre designers e as tecedeiras que resultaram em novos produtos e aplicações, como sapatos, bolsas, malas ou produtos de mesa com design e cores diferentes.

Como exemplo, destaca-se a parceria entre a Cooperativa dos Artesãos Cervenses e a empresa Depositário ou a colaboração de uma das tecedeiras com a marca Marita Moreno.

“Mas nós queremos ir mais longe e queremos afinar a oferta no sentido de a tornar o mais adequada possível aos canais de distribuição que estamos a trabalhar e aos nichos de mercado onde queremos entrar”, frisou.

Vão ser também, acrescentou, convidados outros designers para participar em processos de desenvolvimento de novos produtos.

O objetivo do projeto é, segundo Sandra Teixeira, também da “Verde Novo”, revitalizar o ofício para que as tecedeiras continuem a ter uma fonte de rendimento.

Já Fernanda Machado acredita que o projeto vai ajudar a dinamizar este ofício e que, todas juntas, vão “levantar a arte do linho”.

“O linho faz parte de nós e, por isso, acho que isto é para continuar. Aqui não vai morrer a tradição”, concluiu a tecedeira Maria Augusta.

Tradição do linho quer ser atração turística em Ribeira de Pena

Da semente ao fio no tear: são apenas três as mulheres de Limões que completam o ciclo do linho, uma tradição muito antiga que foi passando de geração em geração nesta aldeia do concelho de Ribeira de Pena.

No total, são 15 as tecedeiras que se mantêm ativas em Limões e em Cerva, onde o linho é uma tradição muito antiga.

Mas esta é também uma arte em risco de desaparecer. Por isso, a marca “Verde Novo”, da empresa Motivos e Memórias, está a desenvolver um projeto de valorização e de revitalização da tecelagem em linho.

“A produção de linho de forma artesanal tem vindo progressivamente a perder expressão e a perder vendas e o objetivo é pegar nesta arte, que está em risco de desaparecer, e tentar revitalizá-la e promovê-la para que as tecedeiras continuem a ter uma fonte de rendimento”, afirmou à agência Lusa Sandra Teixeira, da “Verde Novo”.

Uma das fortes apostas do projeto é no segmento do turismo criativo, transformando o linho num fator de atração ao território.

António Luís, também ligado à iniciativa, referiu que se está a organizar a oferta existente, a partir da qual serão criados roteiros e pacotes turísticos, um trabalho que envolve os agentes locais, desde os hotéis, restaurantes e empresas de animação.

A primeira oferta deste turismo criativo, que permite “às pessoas conhecer a raiz dos territórios, a sua identidade e participar em atividades”, vai decorrer no final de abril.

É durante aquele mês que se fazem as sementeiras de linhaça (semente do linho) e, por isso, os visitantes vão ser desafiados a participar nesta atividade que dá início ao ciclo do linho.

Quem quiser poderá também participar nos ateliês, sentar-se num tear e aprender a tecer, ou participar na caminhada que quer revelar as paisagens deste território do distrito de Vila Real.

Lá para julho é arrancada a planta que, em molhos, é submersa em poços ou tanques durante nove dias e depois fica mais nove dias a corar ao sol e a apanhar nove orvalhos. Depois é preciso maçar, espadar antes de ir à roca, ao sarilho, passar na dobadoura, nas canelas e só depois chega ao tear.

O projeto de valorização das tecedeiras do linho de Cerva e Limões foi selecionado pelo programa CREATOUR, coordenado pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, na vertente de turismo criativo.

Sandra Teixeira referiu que, no âmbito do projeto, já foi criada também uma imagem comum e uma logomarca para o produto “Linho de Cerva e Limões”, estão a ser desenvolvidas novas plataformas de vendas ‘online’ e de distribuição, novos contactos comerciais e está a ser criado um ‘website’.

A publicação do Livro “Linho de Cerva e Limões: tecendo o futuro” funcionou como ponto de partida para este projeto, pois permitiu fazer um diagnóstico da arte da tecelagem.

António Luís adiantou que foi apresentada uma proposta ao município de Ribeira de Pena com vista à criação de uma Indicação Geográfica Protegida (IGP) para o linho, uma certificação oficial regulamentada pela União Europeia.



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