Valores de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” foram subjugados numa série de ataques reivindicados pelo Estado Islâmico e que fizeram dezenas de mortos e centenas de feridos espalhados pelas ruas parisienses numa sexta-feira, 13.
 
Princípio de noite na aclamada cidade das luzes. Amigos na rua celebram a juventude, casais de namorados celebram o amor, enquanto calcorreiam as ruas, admiram as montras, jantam em restaurantes de bairro e outros assistem a espetáculos, concertos e peças de teatro. A movida noturna atrai todos de todas as idades, nacionais e estrangeiros, para o pulsar magnético e vibrante de uma grande metrópole. É então que as conversas, a música que compõe o ritmo cardíaco da festa e do convívio, são abruptamente interrompidas pelo rasgar de balas das famosas kalashnikovs e pelo estrondo ensurdecedor dos ataques bombistas suicidas. É o início dos ataques ao coração da Europa, Paris.
Entre as 21h20 locais (20h20 em Lisboa) de sexta-feira e as 0h20 de sábado, Paris e Saint-Denis foram o alvo de uma série de ataques simultâneos que só terminam com a intervenção dos Comandos na famosa sala de espetáculos parisiense “Bataclan”. No total, perderam a vida 130 pessoas assassinadas por oito terroristas armados. É o caos na noite parisiense, onde o medo e a desconfiança são, agora, os principais companheiros de todos aqueles que se aventuram fora-de-portas.
As celebrações fúnebres começam a ter lugar, havendo ainda 195 feridos hospitalizados. Muitos dos quais em estado crítico. Mas as autoridades continuam à procura de mais suspeitos, numa busca incessante que continua além-fronteiras, nomeadamente na Bélgica.
Um brigantino, em Paris há quatro anos, a quem vamos chamar R. A., pois pediu-nos para não ser identificado por temer represálias, já que trabalha em segurança privada ao mais alto nível, garante que os franceses, depois dos ataques ao Charlie Hebdo, estavam bem conscientes da ameaça iminente. “A questão seria quando”, afirma.
Questionado sobre se frequenta ou já frequentou algum dos locais que foi atacado, R. A. diz já ter assistido a dois concertos no “Bataclan” e, apesar de conhecer a zona de bares e restaurantes que foi atacada pelos terroristas, diz não ser frequentador. “É uma zona típica parisienses onde se passa um momento tranquilo até porque lá tudo fecha cedo, pelas duas da manhã”, informa o profissional de segurança privada.
Quanto à sua opinião acerca dos acontecimentos que têm marcado a atualidade internacional nestas últimas duas semanas, o brigantino emigrado em Paris é perentório em declarar: “é lógico que se instaurou um clima de desconfiança no dia-a-dia dos franceses, em transportes públicos ou em concentrações de pessoas, sentimento ainda bem vivo no após Charlie Hebdo. Mas a sociedade reage muito bem a essas adversidades e nunca em algum momento vai abdicar de toda a essência da liberdade que tanto sangue, suor e lágrimas custou para conquistar”.
 
“Matar em nome de deus não será querer fazer de deus um assassino?”, R. A.
 
Na opinião de R. A., mesquitas com índole radical irão encerrar, seus ímanes serão expatriados, haverá perda da nacionalidade para certos elementos considerados radicais, o controlo de fronteiras e o livre-trânsito serão mais apertados, haverá vigilância máxima por parte das forças de segurança públicas e militares, haverá votação de novas leis anti- terroristas e maiores dificuldades na obtenção da cidadania francesa.
“O terrorismo é um ato de covardia e este país prefere morrer em pé do que viver de joelhos, fazendo valer os valores de resistência do passado”, conclui R. A., confiante num futuro melhor.
Outro brigantino em Paris na altura dos ataques contou ao Diário de Trás-os-Montes aquilo a que assistiu. “Estava na rua, tinha ido tomar café e num instante começaram a passar ambulâncias e carros da policia uns atrás dos outros. Foi uma loucura”, conta Nuno Neves. Em França há dois anos, este jovem admite ter ficado apreensivo com todo o aparato de segurança montado e que pôde constatar a caminho de casa. “Quando quis ir para casa, as estradas estavam todas cortadas pela polícia e tive que dar uma volta enorme. Um trajeto que faço normalmente em 20 minutos, demorei quase duas horas nessa noite para chegar a casa”, recorda.
A França intensifica os ataques aéreos contra o Estado Islâmico na Síria e no Iraque e François Hollande propõe ao Conselho de Segurança da ONU uma resolução com "todas as medidas necessárias" para combater o terrorismo. O texto apela à comunidade internacional para que "redobre os seus esforços e a coordenação dos mesmos no sentido de prevenir e impedir os atos terroristas cometidos especificamente" pelo grupo Estado Islâmico e por outras organizações terroristas associadas à Al-Qaeda.
Em Paris, seguem-se as manifestações de apreço à memória das vítimas. Cerca de três mil pessoas reuniram-se nas proximidades do Stade du France e cada uma delas deixou no local uma rosa branca. Aquele que é um símbolo da capital francesa, a Torre Eiffel, ficou iluminada com as cores azul, vermelho e branco, até ao dia de hoje, 25 de novembro. O monumento foi iluminado com as cores da bandeira francesa também num tributo às vítimas destes ataques inqualificáveis.
Em todo o mundo, sonoros minutos de silêncio fizeram ouvir-se em homenagem a todos aqueles que perderam a vida na capital francesa naquele que já é considerado por muitos o “11 de setembro europeu”. 
 



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