Numa altura em que completa 23 anos de existência, a Feira do Fumeiro de Vinhais tem já uma longa história para contar, que lhe permite afirmar-se como a Capital do Fumeiro. O certame começou com meia dúzia de produtores que, no dia da feira quinzenal e em barraquinhas de madeira improvisadas, vendiam as chouriças e os salpicões feitos em casa.
Hoje, a feira decorre num Pavilhão próprio, com 1500 metros quadrados, e atrai milhares de pessoas ao concelho. À organização da Câmara Municipal de Vinhais juntou-se a Associação Nacional de Criadores de Suínos de Raça Bísara (ANCSUB).
Por outro lado, os salpicões e as chouriças de carne de Vinhais, confeccionados com carne de porco bísaro – uma raça autóctone – , estão protegidos pela União Europeia, com a designação de Indicação Geográfica Protegida. Estes produtos certificados são produzidos por quatro unidades de fabrico e, mais recentemente, por 14 Cozinhas Regionais de Fumeiro.
E é aqui que reside a grande inovação da edição deste ano, que termina amanhã, em que estão à venda enchidos produzidos nestas Cozinhas.
Trata-se de estabelecimentos de venda directa legalizados que, por um lado garantem uma produção completamente artesanal de fumeiro e, por outro lado, cumprem todas as condições higieno-sanitárias. Aqui, os produtores podem transformar até três mil quilos de carne por ano, o que equivale a cerca de 20 porcos bísaros, que têm de ser criados pelo próprio ou na mesma aldeia.
O fumeiro confeccionado nestas cozinhas pode ser vendido num raio de 40 quilómetros. E o principal objectivo destes estabelecimentos é exactamente esse: legalizar os produtores artesanais que participam na Feira do Fumeiro.
Nesta altura, estão em fase de candidatura 35 Cozinhas Regionais, que são apoiadas em 50 por cento pelo Programa AGRIS.

Capital do fumeiro

Todos estes passos que a produção de fumeiro deu, nos últimos 23 anos, conferem a Vinhais a designação de Capital de Fumeiro. Trata-se de um slogan que não surgiu ao acaso e que, antes pelo contrário, “é legítimo”, como afirma o presidente da Câmara Municipal de Vinhais, José Carlos Taveira.
Segundo o autarca “esses títulos não se inventam, conquistam-se! Todo o trabalho que tem vindo a ser feito ao longo destas 23 edições justificam o título de Capital do Fumeiro”.
É que, de acordo com o responsável, a Feira do Fumeiro não é apenas uma festa onde se vendem enchidos. É, sobretudo, um trabalho de qualificação de produtos feitos à base de carne de porco, que representa uma mais-valia na economia do concelho.
“Nós preocupamo-nos com muitos aspectos que estão a montante do fumeiro, desde a criação dos bísaros, os projectos para as pocilgas, o apoio às unidades de produção, a certificação do produto, até ao matadouro”. E até esta unidade está equipada de modo a garantir um fumeiro genuíno e, ao mesmo tempo, fazer uma matança com todas as condições de higienes, como exige a União Europeia. Por exemplo, os porcos não são escaldados, mas chamuscados, tal como acontece numa matança tradicional.

Promoção turística

Ao mesmo tempo que promove o fumeiro e a economia do concelho, esta feira representa também um cartaz turístico de Vinhais. Durante quatro dias, o município acolhe milhares de pessoas, que se deslocam essencialmente do Litoral Norte do país (Porto e Braga). No entanto, nestes dias assiste-se também a um dado curioso: grande parte dos visitantes são vinhaenses, que vivem fora do concelho. “As pessoas que estão espalhadas pelo pais vêm à terra nesta altura e trazem os amigos”, revela José Carlos Taveira. É uma “enchente” que, nesta altura, já fez esgotar os quartos nas residenciais de Vinhais e algumas de Bragança.
E a feira tem também como consequência um outro fenómeno: “Os vinhaenses que estão fora, não só nos pais, mas também no estrangeiro, começam a vir mais a Vinhais nesta altura do que nas férias do Verão”.
As acessibilidades são, nesta altura, o grande inimigo do concelho, que não tem ainda uma ligação privilegiada ao IP4. “Se as pessoas tiverem de ir a Bragança, vão andar mais 40 quilómetros. O ideal seria haver um cruzamento em Podence (Macedo de Cavaleiros”, beneficiando a estrada até Vinhais”, afirma o edil. É que, quando o IP2 estiver concluído, “quem vem do Sul, chega a Macedo e aí é que se coloca o problema”, lamenta o autarca.
A ligação Mirandela-Rebordelo também seria um bom acesso à vila, “se a estrada estivesse repavimentada”.

Jornadas Gastronómicas

Primeiro, o concelho de Vinhais empenhou-se na produção de fumeiro. Agora, está a mostrar como é que os enchidos podem ser servidos à mesa. Ou melhor – bem melhor! – está a servi-los aos visitantes, dando forma às I Jornadas Gastronómicas do concelho de Vinhais.
Nos últimos anos, tem vindo a ser instalado no recinto da Feira um conjunto de tasquinhas que servem pratos à base de fumeiro. Este ano, há algumas alterações nesta componente do certame. Por exemplo, cada tasquinha tem de apresentar um prato tradicional próprio, o que torna difícil a escolha entre tantas iguarias: cozido de cascas, feijoada à Vinhais, fumeiro com grelos…
Nestas Jornadas, pretende-se também retomar a confecção de um produto típico, que está a começar a entrar em desuso: os cuscos. Se não os conhece, pode prová-los na Feira do Fumeiro. E já agora, sabe o que são “tchisquetes”? Este produto será servido numa das tasquinhas.
A estas inovações, junta-se a reestruturação das tasquinhas, depois de um alerta da Inspecção das Actividades Económicas. Este ano, não é só o visual que vai mudar, com espaços fechados, proporcionando mais conforto aos comensais. Haverá também melhores condições de higiene e segurança.



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