São nove e meia da manhã. O dia está enevoado e frio. Na sala climatizada do centro de saúde de Carrazeda de Ansiães, Maria da Purificação, 71 anos, aguarda a chegada da ambulância que a vai transportar às Urgências do Hospital de Mirandela. \"Tenho o corpo cheio de manchas. Mordem-me muito\", explica. O médico local achou por bem encaminhá-la para o hospital, por ter mais meios de diagnóstico.

Chega a ambulância. Tratadas as formalidades, arranca para Mirandela onde chega pouco mais de meia hora depois. Há mais gente à frente, há que esperar cerca de uma hora. Maria da Purificação sofre, o marido dá o apoio possível.

Por dia são atendidas naquele serviço cerca de uma centena de pessoas. Mas antes da implementação do processo de triagem de Manchester eram mais. Das 42 mil entradas anuais passou-se para cerca de 36 mil.

Adérito Baltazar é o bombeiro que transporta a doente. \"De facto, os tempos de espera já foram bem maiores. Uma vez aguardei nove horas para levar o doente a casa\". Com a triagem de Manchester muitos dos pacientes eram relegados para o fim, não ser grave o que tinham. Esses acabaram por preferir recorrer às urgências do centro de saúde. Daí que agora o processo seja mais célere.

Mas não foi em Mirandela que Maria da Purificação ficou a saber o que tem na pele. Nos três hospitais do distrito de Bragança não existe a especialidade de dermatologia. Foi encaminhada para a unidade de saúde de Vila Real. Mais de uma hora à espera. \"Fui lá para nada, ainda não sabem o que é isto que me aflige tanto\", desabafa.

A doente chega a casa, em Mogo de Malta, cerca das 15.30 horas. \"Se houvesse a especialidade em Mirandela ao meio-dia estava pronta, assim... \", protesta. Valeu a \"boa condução\" de Adérito Baltazar.

A experiência de 32 anos a conduzir ambulâncias faz com que Adérito adapte a condução à gravidade e idade do doente. \"Não é o mesmo que transportar mercadorias\", ri. O encerramento previsto das Urgências do Hospital de Macedo de Cavaleiros poderá aumentar o tempo de espera em Mirandela, mas Adérito Baltazar confia que, \"se aumentarem o número de profissionais de saúde\", esse período poderá não ser maior.



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